Título: A lição suíça de política monetária
Autor: Matthew Lynn
Fonte: Valor Econômico, 29/12/2005, Opinião, p. A9

Economia pode ser induzida à expansão sem que a inflação dispare, ou a moeda desabe

O Banco Central Europeu está repleto de conselhos vindos de todos os cantos do mundo. Aconselham que siga o exemplo dos japoneses, dos EUA, ou da UE. Talvez ele não precise mirar tão longe. Da sede do BCE em Frankfurt até Zurique são só duas horas de trem - e, no entanto, o local oferece um tipo muito diferente de operação de banco central. A Suíça, menor vizinho da zona do euro, consumiu os cinco anos passados demonstrando como a política monetária pode ser usada para tirar uma economia da recessão. Chegou a hora de o BCE aprender as lições do sucesso suíço. No começo deste mês, o Banco Nacional Suíço (BNS) elevou as taxas de juros para 1%. Ao mesmo tempo, sinalizou que provavelmente continuaria com mais iniciativas. "Esperamos que o BNS eleve as taxas em 0,25% a cada trimestre, atingindo 2% no fim de 2006", disse Simon Hayley, um economista do Capital Economics, com sede em Londres, em nota aos investidores. Esta é uma grande mudança na política suíça. Nas profundezas da desaceleração econômica, o BNS empurrou as taxas para baixo, a níveis historicamente baixos. A partir de 2001, uma série de cortes promovidos pelo BNS levou as taxas a 0,25% em março de 2003. Elas permaneceram nesse nível por mais de um ano. A esse preço, o dinheiro é virtualmente grátis. Ao mesmo tempo, porém, a economia estava em um estado grave. Ela havia se expandido apenas 0,1% em 2002, no menor ritmo em mais de uma década, e apresentava todos os sinais de estar parando. Em 2003, a economia suíça contraiu-se por três trimestres consecutivos. E agora? O remédio parece ter surtido efeito. A economia suíça é mais robusta do que em qualquer outra época nesta década. Ela cresceu 1% no terceiro trimestre, seu ritmo mais acelerado em cinco anos, e tem sido amparada por exportações e gastos de consumidores aquecidos. O banco central projeta crescimento de mais de 2% em 2006. "Os números econômicos recentes da Suíça surpreenderam positivamente de forma ainda mais expressiva que nos demais países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE)", disse Janwillem Acket, economista-chefe do Julius Baer Holding em Zurique, em nota aos investidores.

Os suíços não são famosos por assumirem riscos com dinheiro e seu banco central ainda assim tem sido muito mais audaz que o BCE

Enquanto isso, os postos de trabalho estão sendo novamente criados. A taxa de emprego cresceu 0,1% - 3,65 milhões de pessoas no terceiro trimestre ante o ano passado - depois de haver crescido 0,2% no segundo trimestre, segundo o Escritório Federal de Estatística de Zurique. A taxa de desemprego caiu para 3,7%, nível que os países da OCDE só podem olhar com inveja. A economia suíça não deverá incendiar o mundo. Ela já é rica, e provavelmente idosa demais, para fazê-lo. As Nações Unidas projetam que a população da Suíça não será maior em 2050 do que é hoje. É difícil crescer em ritmo muito acelerado quando já não temos mais nenhuma pessoa. Ela está claramente a caminho de uma sólida recuperação. O contraste com a zona do euro não poderia ser mais claro. O BCE reduziu as taxas de 4,75%, em maio de 2001, para 2%, em junho de 2003, para fazer frente ao declínio na economia européia. Ele não chegou a fazer como o Federal Reserve, dos EUA, o Banco do Japão ou o Banco Central Suíço. As taxas do BCE jamais ficaram abaixo de 2%, ao passo que os custos de tomadas de empréstimo nos EUA foram reduzidos para 1% em 2003 e permaneceram próximos a zero no Japão por pelo menos quatro anos. A Suíça pode ser vista como um microcosmo da economia européia mais ampla. Ela possui uma população rica, idosa, que já não é muito dinâmica. Tem muitas empresas globais, de grande porte, como a Nestlé e a Roche Holding, porém provavelmente não tem empreendimentos de pequeno porte o suficiente. Os investidores gostam do país como um refúgio em tempos difíceis, com o resultado de que ele tem uma moeda que é provavelmente mais forte do que poderia justificar a economia em questão. O BNS tem algumas vantagens em relação ao BCE. Ele tem uma economia que cobre apenas 7,4 milhões de pessoas, em vez de mais de 300 milhões. Ele precisa lidar com apenas três idiomas principais, em lugar de mais de 12 para o BCE. Um pequeno barco, como qualquer capitão dirá, é muito mais fácil de dirigir do que um barco grande. A lição suíça é que, independente das questões estruturais que uma economia possa enfrentar, ela também precisará ter um banco central pressionando para expandir a demanda do consumo. No Japão, EUA e na Suíça, as baixas taxas de juros foram recompensadas com recuperações econômicas que aparentam ser sustentáveis. O BCE até agora ignorou esses exemplos e ateve-se à sua opinião de que a principal tarefa de um banco central é a de combater a inflação, mesmo que não haja muito sinal dela. Ele continuou se queixando sobre o crescimento da oferta de dinheiro, quando outros bancos centrais até pararam de mensurá-lo. Talvez os seus membros do conselho diretor devam tomar um trem para Zurique. Eles poderão aprender que uma economia pode ser pressionada para a expansão, sem que a hiperinflação dispare, ou que a moeda desabe. Os suíços não são famosos por assumirem riscos com dinheiro e seu banco central ainda assim tem sido muito mais audaz que o BCE. Até agora, isso funcionou.