Título: Preço do petróleo deve variar pouco em 2006
Autor: Stanley Reed
Fonte: Valor Econômico, 29/12/2005, Empresas &, p. B6

Será que 2006 finalmente será o ano em que os preços do petróleo ruirão? Provavelmente não. Mas os temores ainda pairam por aí afora. O petróleo bruto leve dos Estados Unidos, do tipo West Texas Intermediate (WTI), atualmente em cerca de US$ 58 por barril, recuou depois da forte alta provocada em grande parte pelos furacões de verão na costa do Golfo do México. Fundos de hedge e outros especuladores, cada vez mais influentes nos mercados, estão adotando posições vendidas. Há um ano, estavam "comprados". Com os estoques de petróleo em alta, os líderes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que passaram 2005 sentados, admirando o imenso fluxo de dinheiro que recebiam, preparam o terreno para possíveis cortes no segundo trimestre. A demanda por petróleo cai acentuadamente na primavera no Hemisfério Norte. Com as negociações diminuindo, os preços provavelmente fecharão o ano a uma cotação média de US$ 56,70 - um aumento de 36,7% em relação a 2004. Embora ninguém possa descartar completamente outra alta dessa proporção em 2006 - especialmente na hipótese de surgir algum evento que ameace a oferta -, isso parece improvável. Um cenário mais provável seria o de continuidade nos altos preços, embora analistas acreditem que qualquer aumento seria apenas modesto. Paul Horsnell e Kevin Norrish, do Barclay´s Capital, de Londres, que previram os altos aumentos nos preços vistos nos últimos anos, agora projetam aumento de 7,5% em 2006, para uma média de US$ 61 por barril do WTI. Nem todos concordam com esse panorama. O Center for Global Energy Studies (CGES), um instituto de estudos londrino especializado em acompanhar a Opep, prevê boas chances de que ocorra uma queda substancial no mercado de petróleo. De acordo com a avaliação do CGES, os altos preços estão cobrando uma conta bem cara no consumo mundial de petróleo e a Opep teria de promover cortes significativos, de 1 milhão de barris diários, para evitar quedas expressivas nas cotações. No pior cenário do ponto de vista dos produtores, a CGES estima que o petróleo do tipo Brent, atualmente cotado um pouco mais barato do que o WTI, cairia para a faixa média entre US$ 30 e US$ 40 por barril no próximo ano. Olhando à frente, é difícil argumentar que ocorrerão grandes aumentos de preços. A maioria dos especialistas em previsões acredita que o crescimento na demanda, que se desacelerou para 1,4% em 2005 após os enormes 3,4% verificados no ano anterior, voltará a ser moderado em 2006. Um dos fatores-chave será a oferta de petróleo bruto dos países que não integram a Opep. Em 2005, essa oferta não aumentou e, nos últimos anos, vem sendo decepcionante. Os furacões em 2005 nos Estados Unidos e a piora do clima para se investir na Rússia, além de outros problemas, apagaram todo o aumento registrado em outros países de fora da Opep. No próximo ano, poderia haver uma elevação na produção de fora da Opep de 1,1 milhão de barris diários, o que representa 2,2% em relação ao baixo volume extraído neste ano, segundo a CGES. A Opep deverá encontrar relativa facilidade para defender um patamar de preços de US$ 50, por meio de cortes moderados na produção. Mas os membros do cartel se acostumaram a produzir muito. Neste ano, aumentaram a produção média em 1 milhão de barris por dia, sem que isso debilitasse os preços. Persuadi-los a realmente reduzir a produção pode mostrar-se uma tarefa complicada. E defender publicamente cortes nas cotas de produção poderá ser uma questão delicada para países como Kuwait e Arábia Saudita, que querem evitar alienar Washington, especialmente quando o alto nível dos preços da gasolina nos Estados Unidos é uma questão política bastante sensível. A consultoria americana PFCEnergy avalia que se a Opep considerar um corte necessário, não o fará por meio de algum grande anúncio sobre as cotas de produção, mas de forma encoberta, com medidas como a alteração nos preços, redução na alocação de cada membro e promessas de reduzir a produção acima das cotas. O que acontecer em janeiro provavelmente ditará o tom para o resto do ano. No final de dezembro de 2004, ouviram-se muitas conversas sobre um enfraquecimento do petróleo, mas o clima mudou rapidamente quando os fundos de hedge despejaram dinheiro nos mercados de commodities. A gasolina continuará sendo um importante campo de batalha. A oferta de petróleo na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e nos Estados Unidos é relativamente alta, mas os estoques de gasolina ainda são estreitos e os preços do combustível podem influenciar todo o mercado de petróleo. O clima também desempenhará um importante papel. Um inverno muito frio nos Estados Unidos e Europa impediria a queda dos preços, deixando a Opep descansar em paz. Mas, temperaturas amenas poderiam erigir o palco para o que seria o primeiro teste da Opep nos últimos anos.