Título: Cotações devem perder força no exterior
Autor: Alda do Amaral Rocha
Fonte: Valor Econômico, 29/12/2005, Agronegócios, p. B10
O embargo da Rússia ao Brasil por causa da febre aftosa também é uma preocupação para os exportadores de carne suína que têm no país o seu mais importante cliente. Sozinha, a Rússia responde por 65% das exportações brasileiras do produto, que totalizaram 580,9 mil toneladas entre janeiro e novembro deste ano, segundo a Abipecs (reúne os exportadores). Mas assim, como os frigoríficos de carne bovina, os de suínos esperam que os russos retirem o embargo ao produto brasileiro ainda em janeiro. "A Rússia depende do Brasil também", afirma Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs. O motivo principal é que os outros fornecedores de carne suína, da Europa ou do Leste Europeu, têm preços mais altos do que os do Brasil e dificuldade para cumprir as cotas de exportação para a Rússia. Contudo, este ano o Brasil já sofre os efeitos dessa dependência da Rússia na carne suína. Inicialmente, o setor esperava que os embarques atingissem 630 mil toneladas. O surgimento da aftosa no Mato Grosso do Sul e a confirmação, pelo Ministério da Agricultura, de foco no Paraná, levaram a Rússia a suspender a compra de oito Estados brasileiros. Isso, aliado à greve dos fiscais agropecuários em novembro, fez a estimativa para o ano cair para 610 mil toneladas. Para o próximo ano, levantado o embargo russo, a meta é avançar 10% em volumes e receitas sobre 2005, afirma Camargo Neto. Para os preços de venda na exportação, que subiram, em média, 25,25% até novembro deste ano ante igual período de 2004, a expectativa é de estabilidade. "A Rússia já teve aumento de demanda este ano", observa Camargo Neto. A cotação do frango brasileiro no mercado externo também deve ter uma freada em 2006, segundo exportadores e analistas. E a razão é a mesma que fez as cotações subirem de forma expressiva: a gripe aviária na Ásia e no Leste Europeu. Inicialmente, a doença elevou a demanda pelo frango brasileiro. Nos últimos meses, porém, com a descoberta da enfermidade em países do Leste Europeu, os preços recuaram com força porque houve restrição de consumo de aves na Europa. Segundo Carlos Sant'Anna, da Comexport, a queda da demanda na Europa fez o preço do peito de frango cair cerca de 30% na exportação, ou quase US$ 1.000 para US$ 2.200 por tonelada desde outubro. Em recente entrevista, o presidente da Abef (reúne exportadores), Ricardo Gonçalves previu estabilidade para os preços em função da gripe. Para Santana, os preços devem voltar aos níveis anteriores à queda. "O Brasil não tem concorrente internacional hoje", argumentou ele. É essa falta de concorrentes e a entrada em novos mercados que deve garantir aumento entre 5% e 10% dos volumes exportados em 2006, como prevê a Abef. (AAR)