Título: União Européia quer dividir G-20, diz Amorim
Autor: Assis Moreira De Davos (Suíça)
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2006, Brasil, p. A4
O governo não contava com avanços nas reuniões ministeriais da Organização Mundial do Comércio (OMC) que serão realizadas na sexta-feira e sábado, em Davos. Mas, por outro lado, também não esperava as atitudes negativas dos representantes da União Européia (UE) com objetivo de dividir o G-20, grupo de países em desenvolvimento que têm interesses na abertura do mercado agrícola. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou ontem que a UE faz um "movimento duplo" em agricultura. "Disseram que a sua oferta é final, o que demonstra falta de ambição. Mas o pior é que os europeus querem discutir a quantidade de produtos e não as modalidades ou fórmulas gerais de abertura de mercados. A tática européia é, novamente, dividir o G-20", criticou o ministro. Amorim participará de uma conferência miniministerial com representantes de aproximadamente 30 países. Antes, reúne-se com integrantes do G-20. "Essas conversas são importantes, porque tivemos sinais inquietantes nos últimos dias, que podem representar novos obstáculos", advertiu. Outra disposição do consenso em Hong Kong é o corte global das tarifas, até para que os Estados Unidos, outro grande subsidiador da agricultura, faça o mesmo. "Meu pessimismo conjuntural não prejudica meu otimismo estrutural sobre a Rodada Doha", ponderou Amorim. O ministro brasileiro também contestou as acusações que, principalmente Brasil e Índia, vêm sofrendo por parte dos europeus. Amorim explicou que os países em desenvolvimento apresentaram ofertas em acesso aos mercados de produtos industriais e serviços compatíveis com o que receberam no lado agrícola, inferior ao resultado da Rodada Uruguai. "Querem uma transfusão de sangue às avessas", disse. Sobre as reuniões em Davos, Amorim deixou claro sua preocupação. "Já tinha dúvida sobre sua utilidade, mas parece ainda mais desfavorável. A impressão é que eles tentam retroceder e não cumprir o acordo de Hong Kong. Não acredito que isso ocorrerá." Os europeus dizem que já chegaram no seu limite, o que significa redução tarifária de aproximadamente 39% para produtos agrícolas, com uma série de condições. Os americanos, por sua vez, propõem reduzir o apoio interno à produção agrícola, mas exigem que a Rodada Doha determine corte tarifário médio de 75%. O G-20, liderado pelo Brasil, propôs corte tarifário médio de 54%. Na conferência de Hong Kong, o principal avanço obtido foi o compromisso de eliminar os subsídios à exportação de produtos agrícolas em duas fases. A primeira até a metade do período de implementação do acordo, o que significa 2010 ou 2011. O restante, em 2013.