Título: ONG critica ação de lobby nas negociações da OMC
Autor: Assis Moreira De Davos (Suíça)
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2006, Brasil, p. A4

A organização não-governamental ActionAid, da Inglaterra, acusa empresas multinacionais de terem "acesso privilegiado e excessivo" nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), através de ações de lobby em Washington e Bruxelas. Em relatório que divulga hoje, aproveitando a abertura do Fórum de Davos, a ONG reconhece que o lobismo é uma prática normal, mas chegou a um ponto exagerado por parte de grandes empresas na Rodada Doha. Desse jeito, diz que "só os gatos gordos vão obter os benefícios" de um acordo comercial. O relatório diz existirem 17 mil lobistas só em Washington. Isso faz 30 lobistas para cada parlamentar. Esses grupos de interesse teriam gasto quase US$ 13 bilhões influenciando o Congresso e funcionários federais entre 1998 e 2004. A ONG acusa a indústria farmacêutica de ter gasto US$ 1 bilhão com lobby nos EUA em 2004. Segundo a ActionAid, existem 15 mil lobistas em atividade em Bruxelas, sede da União Européia. É cerca de um lobista para cada funcionário da Comissão Européia. Mais de 70% representam empresas. Estima que o custo com o lobismo em Bruxelas varia de 750 milhões de euros a 1 bilhão de euros. Indagado pelo Valor sobre o total de gastos de empresas fazendo lobby na OMC, o autor do relatório, Dominic Eagleton, respondeu que não tinha a menor idéia. A ONG britânica acusa no Brasil o Instituto de Estudos de Comércio e Negociações Internacionais (Icone) de ser "talvez" a entidade mais influente na área agrícola, recebendo financiamento "indireto" de multinacionais do agronegócio como Bayer, Cargill e Monsanto. "Esse estudo é enviesado, mal-intencionado e mentiroso", reagiu o presidente do Icone, Marcos Jank. Ele argumenta que "95% das empresas que financiam o Icone são brasileiras". "Jamais recebemos um centavo de Bayer e Monsanto", diz. Essas companhias são filiadas à Associação Brasileira de Agribusiness (Abag). Segundo Jank, a Abag é sócia "honorária" do Icone e não paga por sua filiação. Jank enfatiza que, caso a Rodada Doha resulte em uma liberalização do mercado agrícola, os principais beneficiados serão os agricultores brasileiros. (AM, colaborou Raquel Landim, de São Paulo)