Título: Presidente pressiona pelo fim da verticalização
Autor: Arnaldo Galvão e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2006, Política, p. A5

A emenda que derruba a verticalização deve ser votada hoje, cercada de uma enorme incógnita sobre sua aprovação. A necessidade dos 308 votos favoráveis para a derrubada da medida agrava-se diante de um cenário onde PT, PSDB e PP estão completamente divididos. Favorável à derrubada da regra, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a ponderar com os aliados, na tarde de ontem, sobre a conveniência de se refletir mais um pouco, principalmente para aguardar uma mudança de opinião do PT. "Não quero alguém ao meu lado simplesmente porque a lei obriga", questionou Lula. Não deu certo. Num claro sinal de descompasso de discurso, a bancada petista fechou questão favorável à verticalização. O vice-líder do partido na Casa, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), que seguiu a posição da Executiva da legenda (contrária à verticalização), criticava o argumento dos defensores da manutenção da legislação, segundo o qual a verticalização facilita a constituição de alianças políticas baseadas na fidelidade recíproca e programática. "Se houvesse uma ampla reforma política, com financiamento público de campanha e fidelidade partidária, tudo bem. Mas votar só a verticalização, solteira, não faz sentido", resumiu. A intransigência do PT pode levar o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), a liberar o voto da bancada governista. "Não faz sentido eu orientar uma posição em uma bancada completamente dividida", justificou. Durante reunião no Planalto, Lula ainda tentou demover sua bancada de apoio no Congresso, lembrando que gostaria de oferecer aos aliados a mesma liberdade que deu ao PMDB, que entrou no governo quando entendeu ser o momento propício. Voltou a repetir que não tem pressa em anunciar a sua candidatura à reeleição. Mas todos os presentes no encontro confirmaram a impressão de que o presidente é candidatíssimo. Um dos aliados lembrou uma frase de Lula. "Todos, nesta mesa, são candidatos em potencial". Um dos líderes brincou: "O senhor está nos dando um alento agora". Brincando, Lula sorriu: "Estou falando de vocês, não de mim", acrescentou. "Eu vou continuar conversando com todos os partidos até me decidir", completou. O líder em exercício do PP, Mário Negromonte (BA), pretende ouvir mais uma vez a bancada antes de orientar o voto em plenário. Na última vez que os parlamentares pepistas discutiram a questão, em dezembro do ano passado, a maioria manifestou-se favorável à manutenção da verticalização. Um aliado governista fez um raio-x do PP: "Como o partido não vai lançar candidato a presidente, não ficará amarrado para fazer alianças regionais". Mas não é só o governo que sofre com a divisão. O PSDB também não sabe que rumo vai tomar na votação de hoje. O governador de Minas, Aécio Neves, entrou no circuito para forçar a bancada a derrubar a verticalização. "A nossa divisão em relação à essa questão é balizada pelo Aécio. Ele é contra a verticalização", confirmou o líder tucano na Câmara, Alberto Goldman (SP).