Título: PMDB marca prévia para 19 de março
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2006, Política, p. A6

Eleições Decisão contraria desejo de defensores do apoio à reeleição de Lula, que queriam adiamento maior

A Executiva do PMDB marcou para 19 de março a prévia que definirá a candidatura própria do partido à Presidência da República. A decisão, tomada ontem, foi uma vitória dos pemedebistas favoráveis ao lançamento de um nome da legenda para concorrer ao Palácio do Planalto. Os governistas, defensores do apoio à candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tentaram adiar ainda mais a data da prévia, mas, sem perspectivas de sucesso, evitaram o embate e ajudaram a formar uma posição unânime favorável ao dia 19. Os pré-candidatos Germano Rigotto, governador do Rio Grande do Sul, e Anthony Garotinho, secretário do governo do Rio de Janeiro, participaram do encontro. Depois da reunião, governistas e pemedebistas favoráveis à candidatura própria emitiram sinais trocados. "Não se pode comprar em março o camarão de uma festa que só vai acontecer em junho", ironizou o líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), da ala mais ligada ao Planalto, na saída do encontro. Aos governistas, a data do dia 19 não é perfeita mas é melhor do que a prevista anteriormente, dia 5 de março. A estratégia deles é postergar cada vez mais a definição. O adiamento lhes dará tempo para analisar melhor o quadro político em junho, quando as convenções dos partidos escolherão os candidatos. Eles querem avaliar a real força eleitoral do presidente Lula, cercado há nove meses por denúncias de corrupção envolvendo o mensalão. Aguardam também o resultado das pesquisas de opinião para analisar qual a possibilidade clara de vitória de Garotinho ou Rigotto. A estratégia de ganhar tempo visa, também, cacifar o partido junto ao PT e garantir uma inclusão sólida na coalizão de um possível segundo mandato. "O governo, hoje, não nos apóia como deveria", diz um influente integrante da cúpula pemedebista. Por fim, querem aguardar os efeitos da votação sobre a verticalização. Se a regra for derrubada, a candidatura própria ganha mais força. As costuras políticas em cada região seriam facilitadas. Rigotto e Garotinho manifestaram posição favorável à derrubada da regra. Os governistas não conseguiram adiar ainda mais a data da prévia por causa de Rigotto. Ele tem até o dia 31 de março para se desincompatibilizar do governo do Rio Grande do Sul. Mas os governistas não descartam uma manobra para conseguir novo adiamento da consulta às bases. Aos pemedebistas defensores de uma candidatura prévia, a definição de uma data ainda em março soa como vitória. "Essa reunião dá mostras de que não há a menor chance de o PMDB não ter um candidato próprio", afirmou o presidente da legenda, deputado Michel Temer (SP). "O resultado da reunião expressa o desejo do PMDB de ter candidato próprio", confirmou Rigotto. Garotinho também tentou mostrar otimismo: "Hoje é um dia feliz, vamos de candidatura própria". Mas até mesmo entre os defensores de um candidato próprio, há divisões. Dos nove governadores, oito apóiam o nome de Rigotto. Só a mulher de Garotinho, Rosinha Matheus, governadora do Rio de Janeiro, está a seu lado. Orestes Quércia, ex-governador de São Paulo, estava na reunião de ontem e também manifestou apoio a Rigotto. Inclusive, vai organizar um movimento a favor do gaúcho na capital paulista, no dia 3 de fevereiro. A desconfiança não preocupa Garotinho. Segundo ele, os governadores do Tocantins, Marcelo Miranda, e do Distrito Federal, Joaquim Roriz, revelaram a ele não ter um nome de preferência ainda. E fez pouco caso do apoio dos chefe dos Estados. "Não é um concurso para saber quem tem mais governadores do seu lado. Na prévia, vão votar 21 mil integrantes do PMDB", afirmou. A eleição terá a participação de todos os vereadores, prefeitos e dirigentes locais da legenda, além dos dirigentes nacionais e dos governadores. Os dois pré-candidatos não têm receio de serem abandonados durante a campanha, como é tradição no PMDB. "Há uma vacina contra esse abandono: o nome será escolhido pelas bases. E 95% da militância quer a candidatura própria. Quando for definido o nome, haverá uma grande mobilização", afirmou Garotinho. Rigotto concorda: "A base quer uma mudança. Não agüenta mais a polarização entre PT e PSDB". O governador vai se afastar por alguns dias do cargo, no fim de fevereiro, para viajar o país e tentar conquistar os pemedebistas.