Título: Empresa de compartilhamento do BB e Caixa sai no primeiro semestre
Autor: Ricardo Cesar
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2006, Finanças, p. C2
O Banco do Brasil (BB), maior instituição financeira do país, planeja uma reviravolta em alguns procedimentos intensivos no uso de tecnologia ao longo de 2006. As mudanças foram traçadas com o objetivo de melhorar a eficiência operacional e reduzir os custos. Um dos principais passos para a racionalização dos recursos é a criação da empresa Bancos Integrados em parceria com a Caixa Econômica Federal (CEF) para cuidar do compartilhamento das redes de atendimento das instituições. A composição acionária será fechada até o final de janeiro e pode envolver também o Bradesco e o Banco ABN AMRO Real. Segundo o vice-presidente de tecnologia e logística do Banco do Brasil, José Luiz de Cerqueira César, a empresa será oficialmente constituída e inicia operações no primeiro semestre do ano. O prazo foi definido, entre outros motivos, para evitar que a estréia coincida com o período mais forte da campanha eleitoral, de forma a afastar qualquer vinculação da iniciativa com a política. O projeto Bancos Integrados começou em fevereiro de 2005, mas inicialmente não havia a intenção de criar uma companhia. No final do ano passado, CEF e BB declararam que havia essa possibilidade, mas apenas recentemente o plano foi fechado e avançou-se na estipulação de um cronograma. A nova empresa será responsável pelo gerenciamento e manutenção de máquinas de auto-atendimento (ATMs) e correspondentes bancários dos associados. Também cuidará da liquidação financeira entre as partes envolvidas. Quando um cliente do BB sacar dinheiro em uma lotérica, por exemplo, a empresa será responsável pelo controle da transferência dos recursos. Bradesco e ABN também fazem parte do conselho criado em meados do ano passado para discutir a melhor forma de compartilhar as redes e a estrutura de auto-atendimento dos bancos. Foi desse conselho que nasceu a idéia de constituir uma empresa responsável pela atividade. Os dois estão interessados em participar da Bancos Integrados, mas ainda não se pronunciam sobre o assunto. A companhia, contudo, sai do papel mesmo se os bancos privados desistirem do negócio. "Criar uma empresa para gerir o compartilhamento das nossas redes é uma decisão que já está tomada pelo BB e pela Caixa", diz Cerqueira César. "Falta definir quem mais vai aderir." O objetivo é ganhar eficiência operacional - ao invés de ter quatro ATMs na mesma localização, muitas vezes ociosos, os bancos podem compartilhar o mesmo equipamento, cujo funcionamento passa a ser responsabilidade da nova empresa. Em alguns pontos nobres, como shopping centers e aeroportos, o aluguel mensal de uma ATM chega a custar R$ 25 mil. Com a estrutura compartilhada, BB e Caixa devem obter uma economia de até 30% na operação e manutenção dos terminais. No momento, o projeto de compartilhamento inclui 2,8 mil ATMs do BB, 533 da CEF e 3.898 lotéricas, somando 7.231 pontos. Está prevista para fevereiro a expansão para Estados que, pelo grande volume de processamento, ainda não foram incluídos: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, além de Goiás. Quando essa etapa for concluída, o compartilhamento atingirá cerca de 16 mil pontos, incluindo 6 mil ATMs do BB, 1,2 mil da CEF e 9 mil lotéricas. Esta é a rede mínima que ficará sob responsabilidade da Bancos Integrados, que coordenará desde o abastecimento com dinheiro até a gestão das linhas de comunicação e a manutenção técnica. Quem pode perder com isso é a TecBan, companhia que oferece acesso compartilhado por meio de sua rede de ATMs que leva a bandeira Banco24Horas. Hoje, a CEF é responsável por aproximadamente 30% da movimentação da TecBan. Apesar disso, sua participação no empreendimento é de 5,9%, sem direito a voto, o que teria gerado insatisfação. "Não podemos entrar em uma estrutura societária que não reflita a margem de contribuição da companhia. Levamos essa discussão para a Tecban, mas a questão não foi resolvida. A Caixa, o BB e o Bradesco questionam o modelo da Tecban", diz Cerqueira César. Procurada pelo Valor, a TecBan preferiu não comentar o assunto. O Banco do Brasil também pretende introduzir alterações nos processos de "back office", ou retaguarda bancária, o que inclui serviços como processamento de envelopes e malotes de empresas e digitalização de cheques. Hoje, as próprias agências consomem muito esforço nesse tipo de trabalho. Para mudar isso, o BB está criando 20 centros de processamento de cheques em 12 localidades do país, com investimentos de mais de R$ 35 milhões. As unidades de Goiânia, Vitória e Brasília já estão prontas. Até março de 2007, todas estarão concluídas. Dessa forma, o BB quer retirar esses serviços das agências, que passariam a se focar apenas na parte de negócios. Os centros serão operados pela Cobra Tecnologia, a integradora de TI do Banco do Brasil.