Título: Troca provoca reações opostas no empresariado
Autor: Claudia Safatle e Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 19/11/2004, Brasil, p. A-3

A saída de Carlos Lessa da presidência do BNDES provocou reações bastante divergentes no meio empresarial, a exemplo do que ocorreu durante sua gestão. Enquanto alguns empresários lamentaram a demissão do economista de posições nacionalistas, houve também quem não escondesse a satisfação com o desfecho do episódio, que afastou do governo o principal opositor da política ortodoxa adotada pelo Ministério da Fazenda e o Banco Central (BC). Algumas entidades de classe evitaram declarações fortes, adotando uma posição política. A escolha do ministro Guido Mantega para o cargo foi recebida de maneira menos apaixonada. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, disse, por meio de nota, que a saída de Lessa era "previsível, tendo em vista os últimos acontecimentos". Declarou que sempre teve "grande apreço pela diretoria do BNDES e por Lessa", mas entende que "não é possível existir, no âmbito da equipe do governo, discussões sobre os rumos da política econômica." O presidente da Câmara Americana de Comércio, Sérgio Haberfeld, foi na mesma linha. Disse que a saída de Lessa elimina um foco de conflitos que atrapalhava o governo. "Ele se recusava a se submeter a hierarquias e insistia numa rebeldia que beirava a anarquia". Haberfeld preside a fabricante de embalagens Dixie Toga e é amigo do presidente do BC, Henrique Meirelles, um dos desafetos de Lessa. "Muitos empresários gostavam dele porque é nacionalista e defendia proteção para alguns setores". O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq ), Newton de Mello, por exemplo, disse ter recebido com "enorme preocupação" a notícia da saída de Lessa. Segundo ele, a Abimaq sempre aplaudiu e viu com "simpatia e entusiasmo" a postura nacionalista de Lessa e sua posição favorável ao desenvolvimento do país. "Porque essa perseguição implacável de metas da inflação, se o que precisamos é de metas de crescimento?" O empresário Roberto Nicolau Jeha, do setor de papel e celulose, lamentou a demissão de Lessa. "Ele conduziu o BNDES com muita seriedade e muita competência. Resgatou o papel do BNDES como banco de desenvolvimento, que tinha sido transformado em banco de investimento no governo anterior", afirmou Jeha. "Lessa defendeu com coragem os interesses nacionais, um projeto nacional e o crescimento sustentado, além de ter defendido a empresa nacional". Jeha afirmou esperar que Mantega siga a linha de Lessa no BNDES, ainda que ao seu estilo. Nas últimas semanas, vários empresários deram demonstrações públicas de que viam Lessa como um aliado no governo. O presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, juntou-se a ele na defesa de juros menores para os empréstimos do BNDES. Lessa foi até a Fiesp discutir o tema com seu novo presidente, Paulo Skaf. Há uma semana, quando surgiu a notícia de que a Fazenda e o BC viam no BNDES um obstáculo à ampliação da oferta de crédito no sistema financeiro, o presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Ivoncy Ioschpe, procurou os jornais para protestar antes mesmo que Lessa manifestasse sua irritação com a novidade. Ontem, Skaf divulgou uma nota comedida. Elogiou Lessa, ao afirmar que sua passagem no BNDES "foi marcada pelo seu estilo próprio de trabalho, tendo cumprido sua missão. Um homem de bem, capaz, acostumado a enfrentar e vencer desafios". Em seguida, diz que, "já olhando para o futuro, Mantega é igualmente íntegro, preparado e com muito trânsito no governo. Temos com ele, como também tínhamos com o seu antecessor, um ótimo relacionamento. Vamos esperar que venha a ser um parceiro na luta pelo crescimento sustentado." O presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Claudio Vaz, disse considerar Mantega um profissional com mais familiaridade com a gestão de negócios. "Admiro Lessa como professor, mas acho que no plano administrativo ele deixou a desejar, poderia ter sido mais eficiente." O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Paulo Saab, também não era um grande fã de Lessa. "Em dois anos da gestão de Lessa no BNDES, o setor eletroeletrônico tentou vários contatos com a presidência da instituição, mas não encontrou condições de diálogo. Apenas conseguimos interlocutores através da área técnica, mas as conversações não evoluíram. Esperamos que agora essa interlocução seja possível.