Título: Maior mérito foi formular as PPPs
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 19/11/2004, Brasil, p. A-4

Guido Mantega, ministro do Planejamento até ontem e agora, escolhido para presidir o BNDES, um dos maiores bancos de desenvolvimento do mundo, deixa como uma das suas maiores contribuições ao governo do presidente Lula a formulação das regras das Parceria-Público-Privada (PPPs), cujo projeto foi aprovado ontem na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, embora algumas questões de mérito ainda estejam por decidir na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Mantega foi um verdadeiro embaixador das PPPs. Andou pelo país para vender a idéia - que é uma obsessão de Lula- aos empresários, governadores e ao Congresso, onde a oposição se colocou contra e fez o governo introduzir mudanças importantes na proposta de lei. Feliz com a troca de cargo, ontem Mantega comemorava que sai de uma pasta cuja principal função é dizer "não" ao gasto público e vai para uma instituição que terá, em 2005, cerca de R$ 60 bilhões para aplicar em projetos na economia brasileira. Nos 23 meses em que ficou no Planejamento, Mantega surpreendeu pela postura "fiscalista", caracterizada por enorme zelo às metas fiscais de superávit primário. Mesmo a contragosto, teve que ceder às agruras do orçamento e, repetindo a prática dos governos anteriores, impor contingenciamentos de gastos. Para desespero dos parlamentares, a liberação de verbas para as emendas orçamentárias dos deputados e senadores vinha sendo regada a conta-gotas. Elaborou, ainda, o Programa Plurianual de Investimentos (PPA) com a lista de obras que deverão ser tocadas até 2007, cuja proposta de revisão está na Comissão de Orçamento do Congresso. Uma das principais características do cargo de ministro do Planejamento é que seu ocupante, em geral, entra em atrito com o Ministério da Fazenda. Foi assim na gestão de José Serra (no Planejamento) e de Pedro Malan (na Fazenda), durante o governo FHC, e temia-se que essa fórmula se repetisse no governo Lula. Disciplinado, Mantega produziu poucas controvérsias com Antônio Palocci. Inconformado com os diagnósticos e premissas da ala mais ortodoxa (sobretudo do Banco Central), que teme que o crescimento se transforme em inflação e, por isso, aumenta os juros básicos da economia, Mantega contratou o economista Antônio Barros de Castro para apresentar alternativas à essa radiografia.