Título: UE já sente diminuição de gás da Rússia
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Fonte: Valor Econômico, 02/01/2006, Internacional, p. A4

Energia Impasse entre Ucrânia e Rússia por causa de preços da commodity causa ruptura no fornecimento

A União Européia já começa a sentir uma ruptura no fornecimento de gás vindo da Rússia, de onde importa 25% de todo o gás que usa. O problema é resultado de um imbróglio entre Rússia e Ucrânia quanto aos preços da commodity e pode afetar a Europa num momento crítico, em que a demanda pelo gás aumenta muito por causa do inverno. A querela começou porque Moscou decidiu aumentar o preço do gás comprado pelos ucranianos de US$ 50 por mil metros cúbicos para US$ 230 por mil metros cúbicos. A Ucrânia pagava valores subsidiados por dar passagem para os gasodutos russos. A Ucrânia se recusa a aceitar uma elevação tão grande em tão pouco tempo. Como um acordo não foi alcançado, a Gazprom (estatal russa de gás) diminuiu ontem em 20% o volume enviado pelos gasodutos - esse volume é o equivalente ao que a Ucrânia importa do gás russo. Os ucranianos já haviam dito que continuariam a retirar o gás, o que conseqüentemente faria com que uma menor quantidade chegasse à União Européia. O primeiro sinal de que o corte afetou a UE foi a declaração da distribuidora de gás húngara MOL de que a pressão dos gasodutos russos havia caído 5%. A Polônia também deu sinais de que estaria sendo afetada. Na Alemanha, entretanto, o grupo BGW, que representa 1.300 companhias de gás e saneamento no país, disse que não faltará gás para o consumidor alemão, já que diversas empresas se anteciparam e estocaram gás vindo da Noruega, da Holanda e dos próprios campos alemães. Mais de 80% do gás russo que vai para a UE são distribuídos por gasodutos que passam pela Ucrânia. A Comissão Européia fará uma reunião de emergência sobre o problema depois de amanhã. "A Comissão está preocupada e vai monitorar a situação", disse Mireille Thom, porta-voz da UE. "Estamos confiantes de que se chegará a um acordo. Não acredito que haverá escassez em curto prazo, porque o fornecimento é feito por várias fontes." Apesar de a Rússia afirmar que o assunto é só uma questão de negócios, o impasse acentuou os temores de que o Kremlin esteja preparado para lançar mão de seus vastos recursos energéticos como uma arma política. O presidente da Ucrânia, Viktor Yushchencko, irritou Moscou ao tentar inserir o ex-Estado soviético, que faz fronteira com a Rússia, na Otan (aliança militar liderada pelos EUA) e na UE. As autoridades ucranianas afirmam que esse é o motivo de o Kremlin pressionar a Ucrânia com um aumento tão grande nos preços, enquanto países mais próximos das políticas de Moscou, como Belarus, pagam preços menores. O impasse ocorre no momento em que a Rússia assume a presidência anual do G-8, o grupo dos sete países mais ricos do mundo mais a Rússia, pela primeira vez. "A Rússia quer que a segurança energética seja sua principal mensagem para a comunidade do G-8 e, simultaneamente, está se tornando uma fonte de perigo", disse Valery Nesterov, analista de energia da Troika Dialog, de Moscou. A companhia de energia Naftogaz, da Ucrânia, acusou a Rússia de promover retaliação arriscada. "A Naftogaz declara que tais ações são inaceitáveis pois arriscam a distribuição de gás para a Europa." O porta-voz da Gazprom , Sergei Kupriyanov, disse que, se o fornecimento para a UE for afetado, será porque a Ucrânia desviou gás.