Título: Câmbio e clima podem adiar recuperação dos defensivos
Autor: Cibelle Bouças e André Vieira
Fonte: Valor Econômico, 02/01/2006, Agronegócios, p. B10

Insumos

O setor de defensivos agrícolas espera para este ano um desempenho semelhante ao de 2005, quando registrou um faturamento de US$ 3,6 bilhões - 18% abaixo dos US$ 4,4 bilhões obtidos em 2004. Na perspectiva traçada por indústrias e entidades, uma nova quebra de safra no Sul devido à estiagem e a manutenção do câmbio nos níveis atuais dificultarão a recuperação das vendas na safra 2005/06. Por outro lado, a desvalorização do real ante o dólar e uma safra cheia darão aos agricultores condições de reforçar investimentos em insumos. O Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag) estima para este ano resultado igual ou até 5%superior ao de 2005, caso se concretizem as previsões para a safra 2005/06 da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O órgão prevê safra de grãos até 10% maior que a passada, chegando a 124,88 milhões de toneladas. Para a soja (responsável por 50% das vendas de defensivos), a safra é estimada em 58,53 milhões de toneladas, 14,6% mais que no ciclo 2004/05 - a Abiove (que reúne as indústrias exportadoras de óleos vegetais) prevê 57,1 milhões de toneladas. "A produtividade da soja pode ser maior porque os agricultores reduziram áreas de menor produtividade e que exigiam mais insumos e estão cultivando nas melhores áreas", avalia José Roberto Da Ros, vice-presidente do Sindag. Nivaldo Carlucci, diretor técnico da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), diz que o setor deve começar a se recuperar efetivamente na safra 2006/07. Ele observa que setores como de cana, café e citros - que têm participações no mercado de 6,5%, 2,8% e 3,2%, respectivamente - estão elevando as compras de insumos, mas dificilmente compensarão a redução das compras pelos sojicultores. Eduardo Leduc, diretor da divisão de produtos para agricultura da Basf para o Brasil, espera para este ano um cenário tão difícil quanto 2005, tendo em vista que os agricultores, afetados pelo câmbio e pelo aumento do endividamento, estão reduzindo compras de insumos para baixar custos. "Por melhor que seja, a nova safra não compensará as perdas dos ciclos passados, e os produtores tenderão a rolar dívidas novamente", avalia Leduc. Segundo o Sindag, dos R$ 3 bilhões do FAT disponibilizados para refinanciamento das dívidas agrícolas, apenas R$ 460 milhões foram utilizados. Em meio ao cenário desfavorável, a Basf, uma das maiores do setor de defensivos, decidiu reduzir custos e reforçar as apostas em produtos para cana-de-açúcar. A meta da empresa é manter o ritmo de vendas de 2005. De janeiro a setembro, as vendas globais da Basf caíram 4,4% sobre igual período de 2004. Rolf-Dieter Acker, presidente do grupo para a América do Sul, diz esperar um ano melhor que o passado, mas não vê tanto espaço para desvalorização do real. Como a Basf, outras empresas tiveram seus resultados influenciados pelo desempenho do agronegócio brasileiro. A Dow Agrosciences teve queda de 6% nas vendas globais no terceiro trimestre, para US$ 615 milhões. A Syngenta teve redução de 3% nas vendas na América Latina no acumulado de janeiro a setembro, para 604 milhões de euros. A Bayer Cropscience, apurou crescimento global de 4,2% no terceiro trimestre, para 1,171 bilhão de euros, mas reconhece que houve forte pressão de baixa nos preços no Brasil. Armin Burmeister, presidente do grupo no país, diz que espera melhoras em 2006. "Mas não deve repetir o que foi 2004", afirma.