Título: Crescimento frágil limita queda do risco
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 02/01/2006, Finanças, p. C2

O baixo crescimento brasileiro impediu que o risco-país caísse em 2005 na mesma proporção da queda registrada pela média dos países emergentes. A tímida expansão do PIB, prevista no máximo em 2,5%, desencoraja as agências de rating a melhorar ainda mais a nota conferida ao Brasil. A classificação do país - BB- pela S&P e pela Fitch, e Ba3 pela Moody's -, ainda a dois patamares para a concessão do grau de investimento, inibe a procura por bônus brasileiros. "Além dos critérios diretos de solvência, como a relação entre a dívida líquida e o PIB, as agências dão especial ênfase ao quesito crescimento econômico", diz o economista-chefe do Banco Pátria, Luis Fernando Lopes. Apesar da redução da vulnerabilidade externa, a maior parte da queda experimentada pelo risco-país no ano passado pode ser atribuída ao cenário de ampla liquidez internacional. Enquanto o risco do Brasil, aferido pelo JP Morgan, caiu 20,37% em 2005 - encerrando o ano a 305 pontos-base -, a média geral dos países emergentes tombou 33,24%. Dos nove países mais representativos do Embi+, o risco brasileiro só retrocedeu mais que o da Turquia (-18,42%) e o do Peru (-8,18%). As perspectivas para 2006 não autorizam euforia sobre crescimento econômico. As indicações são de que a austeridade monetária permanecerá, obstando avanço do PIB superior a 3,5%. As instituições financeiras começam 2006 sem interromper o ajuste de suas previsões para juro e câmbio, iniciadas na semana passada após a leitura do Relatório de Inflação do Banco Central. O que o BC disse, e todo mundo entendeu, foi que o mercado estava otimista demais tanto em relação à queda da Selic quanto à alta do dólar. Apesar de carregado de maus presságios e advertências sobre os riscos inflacionários, foi a simples descrição comparativa entre os modelos econométricos utilizados por ele em suas previsões a desencadeadora do processo de revisão das expectativas. O que o BC mostrou que provocou a mudança radical de prognósticos? Ele disse que se a Selic persistir nos atuais 18% até dezembro de 2006 e se até lá a taxa de câmbio for de R$ 2,25, a inflação fechará o ano que vem em 3,8%. Há, portanto, bastante espaço para o recuo da Selic? Não é bem assim. Se forem utilizadas as projeções otimistas do mercado - Selic a 15,41% e dólar a R$ 2,41 no final de 2006 - o IPCA acumulará 4,9%, estourando a meta central de inflação para o ano, de 4,5%. O BC frisou que nem o juro básico cairá tão ousadamente nem à moeda americana será permitido subir tanto. O Bradesco mudou sem prognóstico de ampliação para 0,75 ponto da baixa da Selic na primeira reunião do ano do Copom, marcada para o dia 18, depois da leitura do Relatório. "Descartamos, a não ser que haja alguma frustração significativa com o crescimento econômico nos próximos meses, uma redução de 0,75 ponto. O caminho mais provável a ser seguido pela política monetária é realmente de reduções sucessivas de 0,5 ponto nas próximas reuniões, trazendo a taxa básica para 16% ao final do primeiro semestre de 2006", diz relatório do seu Departamento de Economia. O próprio BC estima para os primeiros três meses do ano uma inflação já relativamente pressionada e contaminada pela inércia de 2005, avaliada em 1,31%.

Mercado se ajusta a sinais de austeridade

Se o BC não ampliar a flexibilização da política monetária, terá de insistir nas intervenções cambiais para evitar a apreciação do real. A liberação das posições compradas dos bancos não alivia muito as pressões de baixa sobre o dólar. A partir de hoje as instituições poderão, se o desejarem, elevar até o limite do patrimônio as posições compradas. O problema é que não querem, não há motivo para isso. Ao invés de liberar compras, o BC deveria ter tomado a decisão oposta, de restringir vendas. Segundo dados relativos a meados de dezembro, a posição vendida alcançava US$ 3,5 bilhões. A estratégia das intervenções diárias torna-se traiçoeira, se não for bem dosada. Embute dois tipos de risco. As compras de dólares, muito mais as feitas no mercado à vista do que as empreendidas no mercado futuro, têm forte impacto fiscal. Como o BC, para comprar dólares, expande a base monetária e depois emite títulos para retirar o excesso de reais, a operação de amparo ao dólar acaba aumentando o endividamento interno. E justamente o mais danoso, pois indexado à taxa Selic. Ou seja, quanto mais o BC comprar dólares, mais superávit primário será exigido para cobrir a despesa. E se discute hoje justamente o oposto. A relação dívida líquida versus PIB, muito observada pelas agências de rating, pode não se ampliar porque a dívida nominal cresce mas as reservas cambiais também, anulando o impacto. O outro efeito pode ser até pior. O BC não pode, com suas compras, forçar uma alta exagerada do dólar porque a valorização poderia produzir pressões inflacionárias. E o Copom não pode escrever em suas atas que estancou o processo de queda da Selic devido a avanços do dólar, já que estes foram provocados pelo próprio BC. Para Luis Fernando Lopes, as atuações do BC devem se tornar mais erráticas e destinadas a aumentar as incertezas dos investidores. Com isso, agirá para dissuadir o aumento de posições vendidas. Sem tanta certeza sobre a rota do dólar, os investidores tendem a reduzir posições de venda.