Título: BC retira limite para banco comprar dólar
Autor: Mônica Izaguirre
Fonte: Valor Econômico, 02/01/2006, Finanças, p. C3

Câmbio Objetivo é aproveitar o momento favorável para flexibilizar normas; medida não deve afetar cotação

O mercado cambial entra 2006 com uma restrição a menos sobre as instituições financeiras. Está extinto, a partir de hoje, o limite de posição comprada dos bancos em moeda estrangeira, que era de US$ 6 milhões. Para Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, embora mereça elogio, a medida não propiciará recuperação do dólar norte-americano frente ao real. "Na situação atual, o impacto disso na taxa de câmbio é zero", disse ontem ao Valor o sócio diretor da Mauá Investimentos. Anterior a janeiro de 1999, quando foi adotado o regime cambial de livre flutuação, o limite foi criado numa época em que a escassez de moeda estrangeira no Brasil pressionava a taxa de câmbio para cima. Para evitar que os bancos encarteirassem grande volume de dólar e aumentassem a expectativa de alta, o Banco Central recolhia compulsoriamente, sem dar qualquer remuneração, tudo que excedia ao teto de compras por ele determinado. O sentimento atual do mercado é o oposto. O real está firme em relação à moeda norte-americana e, não fossem as compras feitas pelo BC e pelo Tesouro Nacional, o dólar não teria subido no final de 2005. Figueiredo entende que o BC aproveitou o momento favorável para dar mais um passo no processo de flexibilização das normas cambiais, que já vinha acontecendo. A medida é boa, na sua opinião, porque "melhora estruturalmente o mercado de câmbio no longo prazo". Ao permitir que os bancos acumulem mais ativo em moeda estrangeira, o BC dá melhores condições de equilíbrio entre forças de oferta e de demanda, explica. Já no curto prazo, o fim da antiga restrição não ajuda a sustentar o preço do dólar porque a posição dos bancos em câmbio hoje é altamente vendida e não comprada, destaca o economista. Segundo dados do BC, ao final de novembro de 2005, o saldo da carteira de câmbio do conjunto do sistema financeiro estava liquidamente vendido (moeda a entregar) em US$ 3,42 bilhões. O BC confirmou que, de fato, não quis interferir no nível atual da taxa de câmbio. Para a autoridade monetária, o limite não se justificava mais diante de mudanças como a melhoria do balanço de pagamentos externos, o aumento das reservas internacionais e a redução da dívida pública interna indexada ao dólar. O Banco Central entende que eventuais excessos de posição comprada serão inibidos pelas normas de exigência de capital para carregamento de posições em moeda estrangeira. O BC justifica ainda que a medida vai reduzir custo de transações financeiras e garantir maior eficiência na formação de preços no mercado de câmbio. (Colaborou Maria Christina Carvalho)