Título: Ano de eleição, o que fazer?
Autor: Luciana Monteiro e Daniele Camba
Fonte: Valor Econômico, 02/01/2006, EU &, p. D1

Otimismo dá o tom às perspectivas para 2006 e a bolsa desponta como principal investimento, diante dos juros em queda

Mesmo num ano eleitoral, em que a volatilidade costuma dar o tom aos ativos brasileiros, o otimismo prevalece em relação às perspectivas para os investimentos financeiros em 2006. Diante da expectativa de queda mais acentuada da taxa básica de juros, os economistas apostam suas fichas na bolsa, apesar de o Índice Bovespa já ter batido recordes atrás de recordes, fechando 2005 com alta de 27,71%, o maior retorno entre os ativos financeiros, batendo o CDI de 18,99%. Mas ainda que o cenário seja de queda dos juros, a renda fixa deve oferecer bons ganhos para aqueles que preferem ficar fora do sobe-e-desce do mercado acionário. Os analistas também esperam recuperação tanto de retornos quanto de captação nos fundos multimercados. Em 2005, a bolsa brasileira se destacou não só por aqui, mas frente a outros mercados. As bolsas no mundo, de forma geral, foram bem, resultado do crescimento econômico global, puxado especialmente pelos Estados Unidos. Esse crescimento encorajou o investidor estrangeiro a arriscar mais, trazendo uma enxurrada de recursos para países emergentes. O Ibovespa subiu pelo terceiro ano consecutivo, batendo a renda fixa. Em 2004, o Ibovespa teve alta de 17,81% frente a parcos 16,16% do CDI. Já em 2003, ganhou com muito mais folga, com o índice em alta de 97,34% frente 23,26% do CDI.Nesse cenário, a Bovespa fez bonito. Comparando o desempenho da bolsa brasileira frente às demais, o retorno em dólar do Ibovespa ficou em 44,83%, abaixo apenas da Rússia, com 83,29%, Coréia do Sul, com 58,87% e da bolsa mexicana, com valorização de 44,94% . As projeções otimistas para 2006 contam com a visão de uma economia global sem passar por rupturas, diz Hugo Penteado, economista-chefe da ABN Amro Asset Management. Para ele, a América Latina e o Brasil estão se beneficiando de um movimento de forte alta dos preços das commodities, grande liquidez internacional, taxas elevadas de crescimentos global e baixa inflação mundial. Aliado a isso, internamente os juros devem cair, aquecendo mais a economia brasileira. Diante da perspectiva de manutenção desse cenário benéfico, a bolsa mantém lugar de destaque. O crescimento do lucro das empresas deve permitir que o Ibovespa chegue aos 43.000 pontos em 2006 - 10.000 pontos a mais do encerramento do ano e um retorno de 30%, avalia Ricardo Kobayashi, chefe de análise do Pactual. Ele prevê um ano marcado pela turbulência eleitoral, mas que terá nas divulgações trimestrais de resultados das empresas boas definições de rumo para as ações. Em 2005, os fundos DI e de renda fixa encerraram o ano com rentabilidade de 18,88% e 18,52%, respectivamente. O CDI, o juro interbancário que serve de referencial dessas aplicações, fechou com variação de 18,99%. Mas esses ganhos devem ficar mais difíceis neste ano, com a queda da Selic. Para os mais conservadores, os ganhos com renda fixa ainda serão atraentes, diz o estrategista-chefe do Banco Pátria, Luís Fernando Lopes. Com um crescimento maior da economia, os juros terão de cair lentamente, até para não haver uma pressão inflacionária. "Os juros reais (Selic descontada a inflação) não serão mais de 12%, mas algo como 10%, 10,5% em 2006, o que ainda é bastante bom", diz Lopes. Ele acredita que os papéis prefixados embutem possibilidades pequenas de ganhos, já que refletem quedas da Selic de meio ponto em cada reunião do Copom. O BankBoston trabalha com uma taxa Selic de 14% no fim de 2006, o que faz com que a bolsa compense o custo de oportunidade investir em ações frente à renda fixa, diz Odair Abate, estrategista do banco. O executivo trabalha com um Ibovespa entre 39.000 e 40.000 pontos em dezembro, um potencial de alta de 21,2%. "Eleições sempre são importantes, mas os receios de mudança abrupta do modelo econômico, como o mercado via em 2002, estão menores." A moeda americana, vista por muito como porto seguro em anos eleitorais, não deve apresentar forte reação em 2006, dizem os analistas. No ano passado, a divisa americana registrou desvalorização de 12,40%, mesmo com os leilões de compra do Banco Central. Abate, do BankBoston, estima que o dólar fique entre R$ 2,40 e R$ 2,45 até o fim do ano. Para Lopes, do Pátria, apesar da eleição, o cenário é muito diferente do que se tinha em 2002, quando o dólar pulou de R$ 2,20 para quase R$ 4,00. A mesma perspectiva serve para o euro, que fechou o ano com desvalorização de 23,50%, e os economistas não enxergam forte reação. Castigados pela falta de tendência dos ativos, os fundos multimercados, em média, amargaram mais um ano de perdas em 2005. Com a queda dos juros, essas carteiras podem voltar a ser boa opção neste ano. Os profissionais, no entanto, acreditam que o destaque deve continuar sendo os fundos de arbitragem (os chamados long/short). Já as carteiras direcionais - que apostam numa determinada direção do mercado - podem continuar passando por maus bocados. "Para um fundo direcional ganhar precisa estar com uma visão correta da economia de maneira geral, investir nos ativos certos e na hora certa, ou seja, é muito mais difícil ganhar", completa Lopes. Nesse cenário traçado pelos economistas, a inflação se manterá sob controle. O IGP-M fechou o ano com alta de 1,2%. Já o ouro encerrou com ganho de 2,93%, mas tem se mostrado muito mais como alternativa para os investidores internacionais, diante da instabilidade das cotações do dólar e do euro, diz o consultor Fabio Colombo. (Colaborou Angelo Pavini)