Título: Mercado compra Dilma
Autor: Gonçalves, Marcone; Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 12/05/2010, Economia, p. 11

Ao defender o Banco Central, prometer a continuidade da política econômica e lutar pelo aumento do consumo interno, a pré-candidata petista à Presidência se torna a queridinha do sistema financeiro

A defesa que a pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, fez anteontem da autonomia do Banco Central (BC) contribuiu para torná-la a queridinha do mercado financeiro. Relatórios de bancos começaram a circular tratando a pretendente ao Palácio do Planalto como a preferida dos investidores por encarnar a continuidade da política econômica e a garantia de aumento do consumo doméstico. Em contraposição, as declarações do ex-governador de São Paulo José Serra advogando a intervenção do governo nas decisões da autoridade monetária, que foram o estopim para o contra-ataque da petista, aumentaram ainda mais a desconfiança dos operadores contra ele. Muitos analistas já compraram a vitória de Dilma. O argumento que circula entre eles, reforçado por políticos e acadêmicos, é que a agenda da campanha será dominada por dois temas, especialmente para o contingente de 26,9 milhões de brasileiros que passaram a integrar a classe média: a continuidade do governo Lula e o mercado de consumo. Nesse cenário, somente uma crise econômica muito grave poderia ameaçar a vitória da candidata escolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As críticas de José Serra ao BC foram recebidas como um discurso fortemente oposicionista, que provocou barulho desnecessário num tema em que os principais pretendentes à Presidência têm posições convergentes: os fundamentos da política macroeconômica (veja quadro). O mercado comprou a vitória de Dilma Rousseff, afirmou a economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif. Ela lamentou que a agenda política esteja se concentrando no aumento do consumo, tanto das famílias como do governo. Isso ocorre justamente no momento em que precisamos consumir menos e poupar mais, quando precisamos fazer a reforma da Previdência para investir mais. Para Zeina, neste momento, a bandeira da austeridade fiscal, com a qual Serra é mais identificado, pode pegar mal eleitoralmente Dilma é vista como defensora do aumento dos gastos públicos. O economista Kleber Hollinger, da XP Investimento, acredita que o oposicionista voltou a assustar com um discurso intervencionista e centralizador. Serra deu uma canelada. Está de volta com o jeito contestador, disse. O economista-chefe do BES Investimento, Jankiel Santos, não viu no discurso de Serra nada que sugira alteração na política econômica. Ele apenas deixou claro que vai fazer o que o atual presidente faz e o anterior fazia, que é opinar sobre os juros, afirmou.