Título: João Paulo já trabalha para disputar governo de São Paulo em 2006
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 19/11/2004, Política, p. A-8

O jantar entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os presidentes do Senado, José Sarney, e da Câmara, João Paulo Cunha, na noite de quinta-feira, selou o início do jogo sucessório no Congresso para substituir ambos, cujos mandatos terminam em 15 de fevereiro de 2005. "Entendo que a reeleição (das Mesas Diretoras) está enterrada", declarou João Paulo ontem a um grupo de jornalistas. Não há mais condição política para votar e aprovar a proposta de emenda constitucional (PEC) que permitiria a reeleição de Sarney e João Paulo. A interlocutores, o presidente da Câmara deixou claro que vai agora se dedicar com afinco para viabilizar sua candidatura ao governo de São Paulo em 2006. Os petistas acham inevitável que João Paulo ocupe um ministério, o que lhe daria projeção política para disputar a prévia do PT ao governo ao lado do senador Aloizio Mercadante e da prefeita Marta Suplicy. Para parlamentares do PT, o futuro político de João Paulo estaria em torno de três ministérios: Coordenação Política, Desenvolvimento Social, ou Saúde. João Paulo evita fazer comentários sobre a despedida do Poder Legislativo para ingressar no Executivo. Já José Sarney deverá ter um papel relevante na escolha do seu sucessor, apesar de senadores do PMDB defenderem a tese de que o atual presidente da Casa não tem ascendência sobre a bancada. O fato é que Sarney é extremamente respeitado em todos os partidos, e suas opiniões serão consideradas por Lula na hora da escolha. No PT, a expectativa é que a disputa entre pelo menos 10 deputados para suceder João Paulo não crie mais instabilidade política. Há uma rebelião em curso na base aliada do governo na Câmara, que ainda precisa ser contida. Se o PT não se unir, abre-se espaço para a oposição articular uma candidatura, que pode ter votos no PP, PTB e PL. "A própria base pode lançar um nome independente se a situação chegar a um extremo", disse um parlamentar petista, aconselhando o partido a ter juízo e prudência no debate da sucessão para não prejudicar o governo de Lula. De acordo com integrantes da cúpula do PT, a escolha terá que se afunilar e chegar a no máximo três nomes. Teriam mais chances na disputa os deputados Arlindo Chinaglia (PT-SP), Professor Luizinho (PT-SP), Sigmaringa Seixas (PT-DF), Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) e Virgílio Guimarães (PT-MG). "O candidato do PT vai ser quem o Genoino escolher, o José Dirceu quiser, e o Lula concordar", analisou um deputado do partido, da ala moderada. Para os candidatos não ligados à cúpula do Palácio do Planalto, o pior dos mundos seria exatamente a prevalência da escolha "da panelinha", sem que os processos internos da bancada sejam respeitados. "Espero que o nome do candidato seja escolhido pela bancada após um consenso progressivo", disse um petista. A expectativa, no PT, é que nas próximas duas semanas o partido se debruce sobre a sucessão, já que a largada da disputa foi dada com o enterro da PEC da reeleição. Com o assunto da reeleição superado, as emendas de aliados liberadas e a decisão de Lula de falar diretamente com os ministros da base e líderes para saber quais são os problemas pendentes que devem ser discutidos, João Paulo espera retomar as votações na Câmara na próxima semana. A partir da terça-feira, 25 medidas provisórias trancam a pauta da Câmara. No jantar de anteontem, Lula deixou claro o incômodo com a burocracia da máquina. Ao falar do problema de liberação das emendas parlamentares, Lula e Sarney concordaram que nem sempre palavra de presidente da República e decisão de governo significam decisão imediata. Os três presidentes jantaram na casa do assessor de imprensa de Sarney, Armando Rollemberg. Comeram marreco ao molho de amoras, faisão ao vinho e faisão ao molho de damascos. Rollemberg cria faisões.