Título: Para não "perder o momento", Brasil deve crescer, diz Furlan
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 27/01/2006, Brasil, p. A4

O Brasil está "perdendo o momento" na cena global. A constatação foi feita ontem pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Luiz Fernando Furlan, em um almoço-debate do Fórum de Davos, numa comparação com a ascensão da China e Índia na economia global. O tema do encontro era "Brasil e México - locomotivas gêmeas para o crescimento"', que acabou se transformando numa espécie de lamentação geral diante da magra expansão da América Latina, entre 3% e 4%, diante de 8% a 10% dos chineses e indianos. Para Furlan, essas duas economias não são mais avançadas que o Brasil, " mas a velocidade delas na concorrência hoje é maior que a nossa". Além disso, Pequim e Nova Déli demonstram saber exatamente para onde estão indo, com compromissos públicos de crescimento econômico de longo prazo. Furlan voltou a defender que isso deveria ser adotado no Brasil. Exemplificou que o vice-primeiro-ministro chinês presente em Davos claramente anunciou um plano de cinco anos que prevê dobrar o Produto Interno Bruto (PIB) nesse período. "Os países que estão se desenvolvimento sistematicamente adotaram compromissos públicos, que passam por melhora do crescimento, do câmbio, da infra-estrutura. Os chineses apontam os três. E isso motiva investimentos", afirmou. Em Davos, onde está reunida a elite da economia global até este domingo, a China é tratada como potência. E a Índia lançou uma ofensiva de charme jamais vista por aqui, procurando promover o país como nova superestrela da economia mundial, inclusive em alternativa a própria China. Já o Brasil está sumido. Chamando a si mesmo de um "apóstolo", Furlan martelou a mensagem de que o Brasil já deveria ter condições de "estabelecer metas, desafios novos" e dar indicações de longo prazo. No almoço com empresários, ele citou vantagens que o país tem - paz com os vizinhos, abundância de energia e de água etc -, para acabar admitindo que "o crescimento é a palavra chave" e aí a China e a Índia estão bem melhor. José Carlos Grubisich, presidente da Braskem, acha que "falta ambição" no Brasil e na América Latina. Já o ex-presidente do México Ernesto Zedillo usou a língua diplomática para falar de sucessos da região, até reconhecer igualmente que só estabilidade econômica não é suficiente. "Crescimento é a questão central", disse, repetindo uma opinião também de Furlan. Para um participante do almoço, o que aconteceu ali foi uma "terapia de grupo". Enquanto isso, os indianos preparavam no mesmo hotel uma enorme festa, para a qual convidaram os participantes do Fórum. Hoje, o Brasil vai fazer algo mais modesto, mas não menos interessante, por iniciativa da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). Gilberto Gil resolveu que cantaria ontem e nesta sexta-feira. Mas se isso ajuda a atrair investimentos, é outra coisa. (AM)