Título: Fim da verticalização deve garantir a Lula ampliação dos palanques regionais
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 27/01/2006, Política, p. A6

O principal benefício que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai colher com o fim da verticalização das alianças, conforme análises feitas ontem por seus aliados, é a amplitude de palanques regionais e a desvinculação do PT. "Lula, agora, não fica refém do PT. É muito bom para o presidente que não tenha palanques petistas nos Estados", concluiu um fiel aliado do presidente, da base de sustentação no Congresso. A conclusão dos amigos e interlocutores de Lula é que o desgaste sofrido pelo PT durante a crise política poderia prejudicar a reeleição do presidente. Para poupar Lula, o governo traçou uma estratégia ao longo dos últimos meses de concentrar os danos da crise no Congresso e nas legendas aliadas, sobretudo no PT. O escândalo do mensalão, no imaginário do eleitorado, segundo aliados, estaria concentrado nos partidos. Horas antes da votação da PEC, Lula almoçou com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e com o senador José Sarney (PMDB-AP). Analisaram, no Palácio do Planalto, o quadro eleitoral nos Estados. Lula demonstrou-se animado com a recuperação de popularidade nas pesquisas. A ala governista do PMDB considera que a verticalização retiraria do presidente a possibilidade de pisar em diferentes palanques nos Estados. A conversa com Lula pesou na votação da proposta. O PMDB deu 78 votos favoráveis à queda da verticalização. Para Renan, a verticalização, como tese, é defensável. No entanto, numa realidade partidária como a brasileira, com 29 legendas, é um princípio incoerente e inviável. No encontro com o presidente, Renan e Sarney consideraram uma vitória da ala governista ter transferido o prazo de inscrição de pré-candidaturas à presidência de 10 de fevereiro para 12 de março. A mudança prejudica o ex-governador Anthony Garotinho, pois dá mais tempo para que outros pemedebistas também se animem a disputar. Governistas e oposicionistas trabalham com a perspectiva de que haverá, ainda, batalha jurídica até que a extinção da regra da verticalização - a regra que desautoriza os partidos a fazer nos Estados alianças distintas da coligação nacional - se torne realidade. A proposta de emenda constitucional aprovada em primeiro turno na Câmara voltará à pauta, para segundo turno, provavelmente na quarta-feira. Um grupo de parlamentares considera que é inconstitucional modificar regras eleitorais um ano antes do pleito. A alegação dos defensores do fim da verticalização é que estão alterando uma norma constitucional, e não uma regra eleitoral. Sem verticalização, PT e PSDB poderão estar juntos na Bahia e no Acre, por exemplo, contra pefelistas. Lula e o candidato tucano terão palanque garantido em Alagoas, onde Renan Calheiros poderá apoiar a candidatura do senador Teotônio Vilela Filho (PSDB) ao governo do Estado. O PSB, que pretende oficializar o apoio a Lula já no primeiro turno, vai apoiar a reeleição do governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), repetindo a aliança de 2002. "O Parlamento mostrou ontem que a política brasileira permanece regida por questões regionais", analisou o líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS). Apesar de o partido ter encaminhado a votação contra a PEC, Fontana garantiu que nenhuma punição ocorrerá aos 14 petistas que optaram pelo fim da verticalização. Os petistas atenderam às ponderações feitas pelo presidente Lula, contra a imposição de alianças. "O fim da verticalização é um complicador a menos na nossa relação com o PT, um elemento que facilita a aliança", concluiu o presidente nacional do PSB, deputado Eduardo Campos (PE). Em reunião da Executiva Nacional do partido, realizada no dia da votação da PEC, o PSB sugeriu ao ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, que se desincompatibilize do cargo no dia 31 de março. "Um quadro político como o Ciro não deve ficar preso à inelegibilidade a partir de março", argumentou Campos. Uma nova reunião entre a direção partidária e o ministro será realizada no dia 9 de fevereiro. A cúpula considera viável a candidatura própria de Ciro à presidência, uma composição com Lula na Vice-Presidência, ou até mesmo a disputa por uma vaga na Câmara. O irmão do ministro, Cid Gomes, disputará o governo do Ceará. A comemoração no Palácio do Planalto com a aprovação da PEC foi discreta. Apesar do empenho pela aprovação, Lula fez de tudo para não constranger publicamente a bancada do PT. "O presidente Lula sempre disse que desejava aliados com base em posições políticas, não legais", disse o ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner. Segundo o ministro, o PT começa, agora, a conversar em um outro patamar com os aliados naturais, como PSB e PCdoB. (Colaborou Paulo de Tarso Lyra)