Título: Copom vê a inflação sob controle
Autor: Paula Laier
Fonte: Valor Econômico, 27/01/2006, Finanças, p. C2

A ata da reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada ontem, descreve um cenário benigno para o cumprimento da meta de inflação de 2006, assinalando que o repique inflacionário deste início de ano tende a ser temporário, sem necessariamente contaminar horizontes mais longos. Mas as notas não esclarecem o que foi discutido na segunda mais longa reunião do Copom do governo Lula, não dizem o que levou a um corte na Selic de 0,75 ponto percentual - para 17,25% ao ano - nem comprometem o comitê com decisões futuras de política monetária. "A elevação da inflação no início de 2006 vem ocorrendo em intensidade superior à antecipada", diz a ata. "Em boa medida, a alta se deve a fatores pontuais, sem que necessariamente observemos contaminação para horizontes mais longos." Sobre o baixo crescimento da produção industrial de novembro, que pelos números do IBGE ficou em 0,6%, o Copom mantém certo otimismo. "Dois terços dos ramos pesquisados pelo IBGE apresentam desempenho favorável, sinalizando maior difusão da retomada na atividade industrial", diz a ata. "Desde junho as taxas de crescimento alternam sinais positivos e negativos, mas, de modo geral, a produção industrial vem se mantendo em níveis historicamente elevados." No espaço tradicionalmente dedicado a justificar o corte de 0,75 ponto na Selic, a ata apenas reproduzir parágrafos divulgados em documentos anteriores. "A ata é pouco elucidativa", opina o economista-chefe da Concórdia Corretora, Elson Teles. "Se o corte dos juros em dezembro foi de 0,5 ponto e, em janeiro, de 0,75 ponto, a ata não poderia utilizar a mesma justificativa para os dois momentos." No mínimo, diz Teles, o Copom deveria incorporar a avaliação corrente entre analistas econômicos de que um corte de 0,75 ponto representa, na verdade, a manutenção do ritmo de desafrouxamento da política monetária de 0,5 ponto por mês, dado que em 2006 haverá apenas oito encontros, em vez dos 12 de 2005. Alternativamente, afirma, o comitê poderia ter explicitado uma mudança no balanço de riscos entre atividade econômica e inflação. Reproduzindo palavras do comunicado divulgado logo após a reunião da semana passada, o Copom evita na ata se comprometer com cortes de 0,75 ponto na taxa básica daqui por diante. "Será necessário acompanhar atentamente a evolução do cenário prospectivo para a inflação até a sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária", diz a ata. O economista-chefe do Pátria Banco de Negócios, Luís Fernando Lopes, fez uma leitura otimista do relatório. "O Copom vê a aceleração da inflação nesse início do ano como temporária", disse. Hugo Penteado, estrategista do ABN Amro Asset Management, vai na mesma linha - viu uma ata neutra, que não dissemina pessimismo nem permite um otimismo maior sobre a trajetória de juros. O economista Alexandre Póvoa, da Modal Asset Management, divulgou análise ontem em que registra o fato de o BC ter usado no seu cenário básico de projeção de inflação para 2006 a taxa de câmbio de R$ 2,25, quando nos dias da reunião a cotação do dólar oscilou entre R$ 2,31 e R$ 2,32. Nesse cenário, o BC projeta inflação maior do que os 3,8% estimados no relatório de inflação de dezembro, mas abaixo da meta de 4,5% para o ano. Póvoa cogita uma série de razões para o uso de um dólar mais baixo, uma delas uma hipotética admissão pelo BC de que a moeda estava apenas temporariamente acima de R$ 2,30, em virtude de suas intervenções no câmbio. A análise das atas anteriores do BC mostra, porém, que não é padrão o cenário básico de projeção do BC usar a taxa de câmbio dos dias da reunião - na verdade, até agosto, o comitê se referia "à taxa de câmbio em patamar próximo ao que prevalecia na véspera da reunião do Copom".