Título: Trajetória ascendente
Autor: Maakaroun, Bertha
Fonte: Correio Braziliense, 18/05/2010, Política, p. 4

Analistas enxergam crescimento consistente nas intenções de voto de Dilma

A curva de crescimento da pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, nas pesquisas, é inequívoca na avaliação de cientistas políticos. Os últimos números da corrida presidencial, divulgados ontem, pela CNT/Sensus, reforçam os resultados apresentados pela Vox Populi no sábado. Segundo o professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) Marcus Figueiredo, especialista em pesquisas eleitorais, um quadro esperado. Os resultados eram previsíveis, assinala, respaldado nas simulações a partir das médias das intenções de voto, de 2008 para cá, das pesquisas divulgadas pelos principais institutos do país.

A pesquisa CNT/Sensus, realizada com 2.000 eleitores em 136 municípios de 24 estados e divulgada ontem, aponta Dilma com 35,7% das intenções de voto e José Serra, pré-candidato do PSDB, com 33,2% dos votos. Situação de empate técnico. Marina Silva, do PV, obteve 7,3% das preferências. Os outros oito pré-candidatos de partidos pequenos receberam menos de 1,5 % das intenções de voto.

A petista apresentou, de janeiro para cá, um crescimento de 8,5 pontos percentuais, acima da margem de erro de 2,2. Ao mesmo tempo, Serra e Marina oscilaram negativamente dentro da margem de erro, respectivamente 2,9 pontos percentuais e 1,5 ponto percentual. Na simulação de segundo turno, Dilma tem 41,8% das intenções de voto contra 40,5% do ex-governador tucano. Na pesquisa feita em janeiro, Serra estava na frente, com 44%, e Dilma tinha o registro de 37,1% das preferências.

Para Marcus Figueiredo, há um clima de otimismo no eleitorado resultante de um ciclo virtuoso de desenvolvimento com viés à esquerda. Esse ciclo tem forte viés nacionalista e desenvolvimentista, mais à feição da social-democracia do tipo europeia, diferenciando-se drasticamente do período getulista e do regime militar, por terem sido altamente conservadores, considera.

Segundo o especialista, o eleitorado entrou em compasso de espera. Um terço está com Serra, outro terço com Dilma e outro terço disponível, disse. Para ele, contudo, as simulações apontam para uma tendência em favor da petista, que tem ao lado o presidente Lula e os fundamentos do ciclo virtuoso a economia e o desenvolvimento social. O que lhe dá esta marca são o viés em favor das classes mais baixas, por meio das políticas de desenvolvimento social, e uma política econômica de rígido controle monetário, para o combate da inflação, afirma o cientista político.

Mais de 50% já declararam estar dispostos a votar em um candidato apoiado pelo presidente Lula. Ainda não está claro para o eleitorado qual ou quais candidatos representam a continuidade

Marcus Figueiredo, professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj)

Viés é de alta

O aparente favoritismo de Dilma tende a se acentuar a partir do início da exibição do horário gratuito da propaganda eleitoral. Essa é a percepção do cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Bruno Wanderley Reis. Segundo ele, a petista, ainda desconhecida de boa parte do eleitorado menos atento, será intensamente associada ao desempenho do governo federal e à imagem do presidente Lula.

Reis reforça que o presidente consegue manter sempre em alta os índices de popularidade e o eleitor tem demonstrado o desejo pela continuidade. Mais de 50% já declararam estar dispostos a votar em um candidato apoiado pelo presidente Lula. Ainda não está claro para o eleitorado qual ou quais candidatos representam a continuidade, completa o professor Marcus Figueiredo, do Iuperj.

Paternidade Estudioso das retóricas estratégicas das campanhas eleitorais, Reis assinala que a candidatura de Dilma construiu bem um discurso de continuidade. A estrutura é bem simples: o que está ótimo deve continuar (o governo Lula), afirma ele. Já o discurso da candidatura de Serra segue raciocínio quase idêntico, com a estrutura: O ciclo virtuoso durante o governo Lula só foi possível devido à herança do governo FHC. Portanto, o governo Lula passaria a ser o filho bastardo que negaria a herança, explica. Ambos os argumentos sustentam a continuidade como prospecto político. A divergência está na fonte geradora do ciclo virtuoso, ou seja, quem é o pai do sucesso. Quem for identificado como o responsável por essa paternidade, isto é, dos bons indicadores sociais e econômicos que temos hoje, ganhará a eleição, sustenta.