Título: Embargo russo à carne brasileira deve terminar em fevereiro
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 30/01/2006, Especial, p. A12

O Brasil recebeu da Rússia novas promessas, mas nenhuma garantia, sobre as condições de acesso de carnes brasileiras no mercado russo, ao formalizar seu apoio à entrada da Moscou na Organização Mundial do Comércio (OMC). Antes de assinar o acordo sábado, no hotel da delegação russa, em Davos, o ministro brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, levantou junto ao ministro de Comércio da Rússia, German Graf, a demanda para Moscou "flexibilizar o embargo a entrada das carnes por causa da febre aftosa", tanto mais importante porque a Rússia é o segundo maior importador do produto brasileiro. Graf sugeriu primeiro colocar as assinaturas no entendimento envolvendo a entrada na OMC, o que foi feito diante das câmaras das televisões russas. Em seguida, numa reunião fechada, ele prometeu falar hoje com seu colega do Ministério da Agricultura, Alexey Gordieyev, para "acelerar" uma solução à "questão sanitária" atual das carnes brasileiras. Ele dará alguma informação amanhã a Furlan, por telefone. O ministro brasileiro acha que ainda em fevereiro as exportações poderão ser reativadas. Moscou proibiu a entrada de toda a carne brasileira, incluindo Santa Catarina (sem doença), no rastro do surgimento da aftosa no Mato Grosso do Sul e foco no Paraná, no final do ano passado. Os brasileiros esperam retomar os embarques das carnes de Estados sem aftosa e reduzir o prazo (de dois para um ano) da suspensão do produto originários de estados afetados. Quanto ao futuro das exportações de carne com base no acordo na OMC, o vice-ministro russo Maxim Medvedkov, que chefiou a negociação, disse ao Valor que a Rússia não deu garantia de aumentar as importações, "porque somos governo, e quem importa é o setor privado". O governo, em todo caso, deu quase todas as cotas (com tarifa menor) para fornecedores dos Estados Unidos e da União Européia. O Brasil ficou na categoria "outros", com volume bastante limitado. "Mas a carne brasileira não será discriminada, pelo contrário", acrescentou. Ele destacou que o Brasil se beneficiará do Sistema Geral de Preferência reservado aos países em desenvolvimento: será aplicada a redução adicional de 25% sobre a tarifa de importação de carnes. Para Furlan, "os russos sabem que temos condições de ganhar o mercado com ou sem acordo da OMC", e que precisam da carne brasileira inclusive para evitar um impacto inflacionário em seu mercado. Ele acredita que o Brasil continuará exportando pelo menos o equivalente à média dos últimos três anos. Uma das razões pode ser a exportação via Kaliningrado, encrave russo situado às margens do mar Báltico e separado do resto do país pela Polônia e a Lituânia. Segundo Furlan, empresas brasileiras planejam se instalar ali para agregar valor à mercadoria. Empacotarão a carne, que assim passa a ser produto russo e não estará sujeita a cota. Embora as carnes e açúcar representem mais de 80% das exportações brasileiras para a Rússia, ficaram fora da lista mencionada pelo vice-ministro russo Maxim Medvedkov, quando listou produtos que teriam "melhora significativa" no mercado russo com o acordo. Citou aviões, produtos químicos e todo tipo de maquinários, que terão abertura adicional de 20% em cinco anos, pelos seus cálculos. Medvedkov disse que a redução da tarifa sobre o café cairá 35%. Já para o açúcar, admitiu que não houve melhora importante, mas prometeu nova negociação com os brasileiros em 2012. A Colômbia, por sua vez, é um dos três únicos países que ainda não assinou acordo com os russos (os outros são EUA e Austrália), porque recusa a banda de preços (pelo qual pode aumentar as taxas de entrada do produto) que o Brasil aceitou. Na assinatura do acordo, Furlan avaliou para a televisão russa que o comércio bilateral podia aumentar 500% em curto prazo. Com os preços do petróleo em direção de US$ 70 por barril, Moscou de fato pode importar muito. No entanto, o ministro Graf colocou a barra um pouco mais embaixo: acha que o comércio bilateral crescerá por volta de 300% até 2010, alcançando cerca de US$ 10 bilhões por ano. Os russos querem sobretudo aumentar suas próprias vendas para o Brasil. Medvekov observou que até novembro, o Brasil tinha exportado US$ 2,1 bilhões, e comprado da Rússia apenas US$ 500 milhões. "Precisamos equilibrar essa balança" afirmou o vice-ministro. (AM)