Título: Demora em embarque faz país perder vendas
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2006, Brasil, p. A4

Comércio exterior Do local de produção até o navio, são gastos 39 dias, 12 a mais que a média mundial

Desde a porteira da fazenda ou o portão da fábrica, um produto brasileiro demora, em média, 39 dias para chegar ao porto, realizar os trâmites burocráticos e embarcar no navio. Se o Brasil conseguisse reduzir essa viagem para 27 dias, que é a média mundial, as exportações do país aumentariam 12%, segundo estudo do Banco Mundial (Bird) e da Corporação Financeira Internacional (IFC, da sigla em inglês). O levantamento demonstra que cada dia de atraso no embarque do produto representa queda de 1% nas exportações de um país. É como se a distância entre esse país e seus principais parceiros aumentasse 85 quilômetros por dia de atraso. No caso do Brasil, os 12 dias a mais de trâmite na exportação ante a média mundial equivaleria a 1.020 quilômetros - praticamente a distância que separa Brasília do Porto de Santos. Para Bernardo Hoekman, gerente de pesquisa do Bird, os dados mostram que alguns países em desenvolvimento têm mais a ganhar com melhorias na infra-estrutura e redução da burocracia do que com queda de tarifas na Organização Mundial de Comércio (OMC). As negociações da Rodada Doha, da OMC, estão mais concentradas em quedas de tarifas do que em facilitação de comércio, tema que trata da harmonização dos procedimentos aduaneiros. O estudo do Bird/IFC, intitulado "Trading on Time", foi realizado com base em estatísticas recolhidos pelo relatório "Doing Business 2006", com informações obtidas em 126 países. O Brasil perde para vários países emergentes, que concorrem diretamente com seus produtos no mercado internacional. O tempo médio entre a fábrica e o navio é de 23 dias na Argentina e no Chile, 20 na China e 18 no México. A Índia também é lenta na exportação e gasta 36 dias, quase o mesmo que no Brasil. A Dinamarca é o país mais ágil em comércio exterior e consegue embarcar um produto em cinco dias. Na Coréia, são necessários 12 dias. Nos Estados Unidos, apenas nove. O Brasil só é mais veloz que os países pobres da África. Em Burkina Faso, gasta-se 71 dias para exportar um produto. No Mercosul, a demora média é de 30 dias. O Brasil é o lanterninha do bloco. O impacto do atraso na exportação é ainda mais relevante para os produtos agrícolas perecíveis, que costumam ser uma fonte de receita para os países em desenvolvimento. Segundo o estudo, cada dia de atraso no embarque de produtos perecíveis representa queda de 7% nas exportações do país. De acordo com o estudo, apenas um quarto dos atrasos nas exportações dos países são provocados por infra-estrutura precária. Em 75% dos casos, a principal culpada é a burocracia: procedimentos de alfândega, taxas, inspeções de carga. Na Dinamarca, é necessário preencher apenas três formulários e recolher as assinaturas de duas autoridades para autorizar a exportação. No Brasil, o entrave é maior e é preciso preencher sete documentos e recolher oito assinaturas. Para José Augusto de Castro, diretor-executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), é difícil saber o que o pior no Brasil: infra-estrutura ou burocracia. "A infra-estrutura é mais visível no bolso do exportador, já que a burocracia é mais complicada de quantificar", diz.

O estudo completo está no site www.doingbusiness.org/documents/trading_on_time_full_report.pdf .