Título: FHC critica governo por corrupção
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2006, Política, p. A5

Sem poupar críticas à administração federal, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, reclamou da falta de punição à corrupção no plano federal e, indiretamente, chamou o governo de "ladrão". Ao aconselhar tucanos a não aceitarem a agenda de discussões proposta pelos petistas, foi enfático: "Não podemos entrar na conversa dos companheiros que estão lá em cima. A conversa deles é que a questão moral não conta mais. Conta sim. Ladrão não mais!". Fernando Henrique endossou o comentário feito pelo governados de Minas, Aécio Neves, do PSDB, de que Lula é derrotável e disse que o presidente terá de dar "muitas explicações, a toda hora" para o país. "Durante a campanha ele vai ter que voltar a temas que podem ser até desagradáveis. Não é o tema da corrupção. Esse tema não adianta nem voltar, todo mundo sabe que houve muita. É outro tema. Por que não fez o que prometeu?". Com um discurso ácido, o ex-presidente defendeu pena para todos os envolvidos nesse tipo de crime, inclusive para os membros do PSDB. "Não pode ser só para alguns. Tem de ser para todos, inclusive para os nossos. Senão não teremos moral". O tucano disse abominar o discurso de que "todos os partidos são iguais" na corrupção. "Essa idéia tem que ser repudiada, senão ficará essa marca e não terá mais como tirá-la". De forma irônica, FHC comentou ter ficado feliz com a "continuidade" do petista a ações de seu governo e criticou Lula por "não ter inovado". Em seu entendimento, o país precisa acelerar as conquistas na área econômica, para poder aproveitar a fase "extraordinariamente positiva". Durante palestra a tucanos sobre "os desafios do Brasil e as propostas do PSDB", na inauguração do Instituto Social Democrata, em São Paulo, Fernando Henrique recomendou aos simpatizantes que sejam simples no discurso para conquistar votos dos eleitores. Seu conselho foi de que para convencer o brasileiro não se pode discutir temas complexos na campanha e também não se pode "não abrir o leque de questões". "O povo não quer saber qual é a taxa de juros do país, quer saber qual vai ser o valor da prestação que ele vai pagar", comentou. "Vamos ganhar o eleitor na televisão, no rádio, na conversa de botequim. Temos que dar o 'feijão com arroz', dar argumento para discutir no nível da convivência em casa". Cacique do PSDB e um dos principais responsáveis pela definição do candidato que disputará a Presidência da República, Fernando Henrique negou já ter definido seu candidato e disse que vai esperar a definição do PMDB para que os tucanos anunciem o postulante. "Lula diz a toda hora que não sabe (se vai concorrer à reeleição), mas se comporta como candidato. Por que nós vamos nos precipitar? O importante é evitar essa história de que eu estou a favor de um candidato", disse. (CA)