Título: Tentativa de indiciar Palocci não tem apoio tucano
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2006, Política, p. A8

Crise Líderes do PSDB e PFL discutem forma de retirar ou derrotar emenda de senador do Mato Grosso

Deve fracassar a tentativa de indiciamento do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, pela CPI dos Bingos. A idéia partiu do senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), que apresentou emenda à CPI, sugerindo a inclusão do ministro na lista de indiciamentos a serem solicitados pela Comissão. O relator Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) adiantou ontem ao Valor que, em seu relatório, vai se posicionar contra a proposta. Antero está sozinho. A cúpula do seu partido não aprovou a idéia de indiciar Palocci. Os dirigentes do PSDB defendem que todas as ações políticas contra o governo sejam discutidos em conjunto pela oposição. Tanto Tasso Jereissati, presidente do PSDB, quanto Arthur Virgílio, líder no Senado, têm bom relacionamento com Palocci, isto sem falar nos pefelistas também próximos ao ministro. Na noite de ontem, dirigentes dos dois partidos discutiam estratégia para derrotar ou evitar a votação da emenda de Paes de Barros. Garibaldi avisou também que é contra qualquer tentativa de retirada do pedido de indiciamento do presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, e de dois ex-presidentes - Sérgio Cutolo (1995-1999) e Emílio Carazzai (1999-2002). O relator cita Palocci em seu relatório, já que ele tem ligação com alguns dos principais suspeitos nas irregularidades, mas não propõe o indiciamento. Depois do depoimento de Palocci à CPI, na quinta-feira, Antero decidiu propor o indiciamento do ministro sem conversar com sua bancada. "Nesse caso da GTech, especificamente, não há como responsabilizar o ministro diante do Ministério Público. Meu parecer será contrário", disse Garibaldi. Será difícil Antero conseguir emplacar a aprovação da emenda. "Acho que a CPI está em um ponto que inevitavelmente o nome do ministro deve ser citado, mas não sei se é caso de indiciamento", disse Virgílio. O senador disse haver a necessidade de consultar os demais parlamentares da oposição e aventa até a possibilidade de a emenda nem ser colocada em votação. "Se não tivermos unidade entre os oito da oposição, fica difícil. Não quero expor Antero a uma eventual derrota." O senador José Agripino Maia, líder do PFL, prefere deixar o caso nas mãos de Garibaldi. "Acho que a citação é importante, mas se deve dar ao relator a confiança para que ele tome a decisão sobre indiciar ou não o ministro", afirmou. Ele pede uma análise "cautelosa" da emenda. O senador Tião Viana (PT-SP), da base governista, não teme a proposta. "É uma emenda totalmente improcedente", afirmou. A CPI analisará duas outras emendas, além da de Antero. A primeira, apresentada pelo senador Valdir Raupp (PMDB-RO), pede a retirada do nome de Jorge Mattoso da lista de indiciamentos. A segunda, de Antero e do senador José Jorge (PFL-PE), requer a retirada dos nomes de Sérgio Cutolo e Emílio Carazzai. Há a possibilidade de acordo, embora Viana e Virgílio neguem. O relator da CPI assegurou que não aceitará nenhuma das duas emendas. Tião Viana se baseia em investigações feitas pelo Tribunal de Contas da União e do Ministério Público para defender a retirada do nome de Mattoso. Virgílio é contra a retirada do nome do presidente da CEF: "Não tenho boa impressão dele. A Caixa anda muito nebulosa". Sobre Carazzai, Viana mostra-se favorável à retirada de seu nome. "É um homem de bem, que lutou contra a GTech. Acho que pode ser retirado", opinou. Agripino é favorável à retirada do nome de Carazzai e deixa em aberto a possibilidade de tirar Mattoso da lista de indiciados. Os tucanos desmentem que a emenda de Antero Paes de Barros seja uma maneira de pressionar o governo a propor o indiciamento de Carazzai e Cutolo. PFL e PSDB, segundo o líder Arthur Virgílio, teriam maioria para evitar a sugestão de indiciamento de ambos. Apesar de as duas partes negarem o acordo, está em curso um entendimento reservado de oposicionistas e governistas para poupar os ex-dirigentes da Caixa e Jorge Mattoso. Ontem, o presidente do Supremo Tribunal federal, Nelson Jobim deferiu liminar que suspende a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto. Segundo a assessoria de imprensa do STF, Jobim ressalta, em seu despacho, que o requerimento da CPI, ao estabelecer o acesso da comissão aos dados do presidente do Sebrae, "fundamenta-se em notícias veiculadas em matérias jornalísticas, sem sequer indicar um fato concreto que delimite o período de abrangência dessa medida extraordinária".(Colaborou Maria Lúcia Delgado, com agências noticiosas)