Título: De surpresa, criadores do Google vêm ao Brasil
Autor: Ricardo Cesar
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2006, Empresas &, p. B3

Internet Dupla desconversa sobre negócios, mas dá show de marketing

De jeans, tênis e uma versão muito particular de camisetas da seleção brasileira - o nome do Google vinha estampado na frente das peças -, Sergey Brin e Larry Page, os bilionários fundadores do serviço de busca na web mais acessado do mundo, fizeram sua primeira aparição no Brasil, ontem, em um encontro tão inesperado quanto caótico. Feito em um elegante restaurante da capital, faltavam até microfones. Ninguém sabia da visita da dupla, que desembarcou no Brasil no domingo, vinda direto de Davos, na Suíça, onde ambos participaram do Fórum Econômico Mundial. O motivo da visita permaneceu oculto. Descontraídos e atenciosos, Brin e Page contaram que é a primeira vez que pisam na América do Sul, mas foram evasivos quanto à sua missão no país. Limitaram-se a dizer que visitavam a subsidiária local, onde verificaram, com satisfação, que a equipe é entusiasmada e barulhenta. Os dois empreendedores parecem versados na escola do "politicamente correto". Eles contaram que deixaram Davos preocupados com o aquecimento global e com a busca de fontes renováveis de energia. Essa seria a explicação para a visita que os jovens empreendedores fizeram à Cosan, apesar da agenda apertada. O grupo de capital brasileiro é o maior produtor de açúcar e álcool do mundo. Se isso é só preocupação ambiental ou significa uma chance de investimento, eles não revelaram. "Estamos surpresos com a liderança do Brasil no uso de etanol", disse Page. Os fundadores do Google defenderam-se das críticas feitas à decisão da empresa de submeter-se à censura para poder operar no mercado chinês. "Conversei com algumas entidades de direitos humanos sobre essa questão e todos concordaram que é melhor o Google participar na China, mesmo com algumas restrições, do que não participar de forma alguma. Acho que tomamos a decisão certa, mas respeito e entendo quem pensa o contrário", afirmou Brin, novamente sem perder a correção política. Ao comparar o Brasil com outros mercados emergentes, porém, eles deram uma declaração discreta de preferência pelo país. "A China é um mercado muito atraente, mas é muito complexo de operar porque há fortes restrições legais, uma coisa que não encontramos no Brasil", afirmou Brin. O empresário considera que o mercado brasileiro de internet não é igual a nenhum outro. As principais diferenças, ressaltou, é que os negócios são mais dinâmicos e as pessoas são mais sociáveis e querem comunicar-se mais. "Estamos aprendendo muito com nosso investimento de internet no Brasil." Apesar das lições aprendidas até agora, nem Brin nem seu sócio sabem como ganhar dinheiro com o Orkut, o site de relacionamentos que tornou-se uma febre no país: cerca de 70% dos usuários do serviço são brasileiros. Quando perguntaram sobre a razão do sucesso, eles devolveram a pergunta: "Alguém aí sabe?" A dupla deixou claro que o desafio, no país, é popularizar as principais ferramentas e recursos oferecidos pela empresa no exterior, caso dos softwares AdSense e AdWords, programas que ajudam pequenas anunciantes e empresas parceiras donas de sites na web a entrar na rede de publicidade do Google. A dupla parece mesmo ter gostado do país. A volta para os EUA seria rápida, no Boeing 767 que eles compraram recentemente, mas os planos estavam sendo alterados. Eles disseram que tentavam acomodar sua agenda para ficar mais tempo por aqui.