Título: Empresas prevêem redução de demanda no primeiro semestre
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2006, Brasil, p. A2

O setor industrial trabalha com expectativas modestas para o primeiro trimestre do ano, conforme revelam dados levantados pela sondagem conjuntural da indústria, realizada em janeiro pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A pesquisa revelou que a indústria começou 2006, como acabou 2005, em ritmo lento. O comportamento fraco da demanda, derrubada pelo aperto monetário que vigorou no ano passado, levou 28% das 914 empresas ouvidas na pesquisa, a apontarem a insuficiência de demanda como o principal entrave às atividades industriais neste início de ano. Em janeiro, 23% empresas consideraram o nível de demanda fraco, e forte apenas 8%. A diferença, negativa em 15 pontos percentuais, foi o pior desde 1999. Apesar de 50% dos entrevistados estarem apostando numa melhora da situação dos negócios nos próximos seis meses, Aloísio Campelo, coordenador da pesquisa, avalia que a indústria vai continuar cautelosa em relação aos rumos da economia em 2006. As previsões para o primeiro trimestre confirmam este cenário. A maior parcela das empresas está trabalhando com redução da demanda global. As perspectivas são mais otimistas para a demanda interna, enquanto que o câmbio valorizado está influindo nas estimativas de queda de demanda externa, prevista por 26% das empresas. O receio de menor procura por produtos industriais está levando 33% das indústrias entrevistadas a trabalharem com previsão de redução da sua produção, ante 31% que pretendem aumentá-la. A boa notícia é que o processo de ajuste de estoques ainda em curso pode ajudar a retomada da atividade nas empresas a partir do segundo trimestre. De acordo com os dados da sondagem, apenas 9% das empresas apresentaram estoques excessivos em janeiro ante 12% em outubro passado. No momento, apenas 2% das estão com estoques insuficientes. O pior indicador da sondagem é o de emprego. Nas previsões para o primeiro trimestre, 27% das empresas pretendem demitir e contratar apenas 16%. O saldo negativo de 11 pontos percentuais é o pior desde janeiro de 2000. Mesmo com essa estratégia de acumular estoques e o desaquecimento da economia que levou a produção industrial a crescimento zero no segundo semestre, um dado que chama a atenção na sondagem é o nível de utilização da capacidade instalada da indústria (Nuci). Continuou acima da média histórica de 81% da pesquisa. Em janeiro, atingiu 83,5% sem ajuste sazonal, ante 85,2% em outubro. O setor de bens de capital apresentou o menor nível de utilização de capacidade, de 76,9%, uma queda significativa ante os 81,2% de outubro e os 83,2% de janeiro de 2005, que pode ser atribuída a retração nos investimentos no ano passado.