Título: Bolsas derretem no mundo
Autor: Nunes, Vicente; Gonçalves, Marcone
Fonte: Correio Braziliense, 18/05/2010, Economia, p. 10

Investidores se desfazem de ações, descrentes da capacidade de governantes porem fim às turbulências na Europa

A ajuda de mais de US$ 1 trilhão aos países da Zona do Euro foi insuficiente para acalmar os investidores. As incertezas sobre a eficácia das medidas para conter crise fiscal na região, as expectativas de redução de crescimento na China e o temor de a Alemanha e a França abandonarem a moeda comum ditaram os rumos dos mercados ontem. As bolsas de valores derreteram em boa parte do mundo, registrando perdas históricas.

Na China, o tombo foi de 5,1%, maior queda diária em oito meses. Hong Kong caiu ao menor nível em três meses, ao recuar 2,1%. Na Franca, a baixa foi de 4,59% e, na Alemanha, de 3,12%. No Brasil, o dia não foi muito diferente. Contaminada pelo nervosismo, a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) chegou a registrar perdas de 2,50%, mas, no encerramento do pregão, acompanhando a tendência dos Estados Unidos, onde a Bolsa de Nova York subiu 0,05%, reduziu o prejuízo para 0,86%, nos 62.866 pontos foi a terceira queda seguida.

Responsabilidade Apesar dos anúncios de redução de gastos, ainda há dúvidas sobre até que ponto a Europa conseguirá sustentar a moeda única, disse Wiliam Castro Alves, analista da XP Investimentos. Para o economista da Corretora Prosper Demetrius Borel Lucindo, no entanto, mesmo que a Grécia (que espera receber, em 48 horas, a primeira parcela da ajuda emergencial, de 14,5 bilhões de euros) consiga evitar a moratória, outros problemas mais sérios virão se os países não fizerem um amplo controle no funcionamento do sistema financeiro. É um assunto que ninguém gosta de falar, mas os governos têm que acabar com os mercados de derivativos e reduzir a especulação, destacou.

No Brasil, o impacto acabou não sendo tão ruim, segundo Décio Pecequilo, consultor financeiro da TOV Corretora, porque o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, deixou bem claro que a economia brasileira está sólida e preparada para enfrentar crises, por manter a responsabilidade monetária.

Dólar sobe para R$ 1,81

Com a crise europeia longe do fim e os investidores cada vez mais avessos ao risco, houve uma corrida em busca por dólar ontem. Tanto que a moeda americana chegou a registrar alta de 1,11% ao dia e só não sustentou esse patamar por causa da presença maciça de exportadores vendendo a moeda americana. A divisa encerrou a segunda-feira cotada a R$ 1,810 para venda, com valorização de 0,28%, a terceira consecutiva. Apenas em maio, o dólar acumula alta de 4,26% e, no ano, o avanço é de 3,96%.

Na avaliação dos analistas, com o euro se despedaçando e a perspectiva de que a moeda europeia desabe até US$ 1, o que provocará grandes desequilíbrios no mundo, os investidores tenderão a manter firme as compras de dólares. Para o Brasil, a recuperação da moeda americana será positiva, pois tornará os produtos nacionais mais competitivos no exterior. O Banco Central, por sinal, deu mais uma mãozinha aos exportadores, ao entrar no mercado comprando as sobras de dólares.

O programa de socorro de US$ 1 trilhão à Zona do Euro demorou a chegar. E não se sabe direito o que acontecerá a longo prazo, assinalou Luiz Roberto Monteiro, assessor de investimentos da Corretora Souza Barros. O azedume aumentou depois que o Federal Reserve, o Banco Central americano, divulgou o índice do setor manufatureiro, que caiu para 19,11 neste mês ante 31,86 em abril, um forte sinal de que a maior economia do mundo está longe de retomar o fôlego.

Outro fator negativo foi o aumento, pela 17ª semana seguida, das previsões de inflação, segundo o boletim Focus, do Banco Central. As estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano saltaram de 5,50% para 5,54%, distanciando-se ainda mais do centro da meta oficial perseguida pelo BC, de 4,5%. (VB)

Meirelles diz que o BC está pronto para agir

O Banco Central está pronto para pôr em prática todas as medidas similares às usadas depois do colapso do Lehman Brothers, em 2008, para proteger a economia brasileira do contágio da crise europeia. Foi o que assegurou o presidente da instituição, Henrique Meirelles, depois de tocar o sino de abertura da Bolsa de Nova York. Ele assegurou que as autoridades brasileiras estão acompanhando atentamente quaisquer sinais que possam indicar que a crise de dívida na Zona do Euro está piorando. Esta é uma semana muito importante, em que os mercados estão avaliando a situação na Europa, afirmou. Mas o Brasil está bem preparado para o caso de a situação na Europa ficar pior, frisou, acrescentando que as reservas internacionais do país estão em nível recorde e que os depósitos compulsórios foram elevados para patamares pré-Lehman.