Título: JP Morgan terá no Brasil dois co-presidentes
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2006, Finanças, p. C1

Vai mudar o comando do JP Morgan no Brasil. Em junho, o atual presidente, Charles Wortman, voltará aos Estados Unidos e será substituído por dois co-presidentes, atualmente diretores executivos, o argentino Martin Guillermo Marron e o brasileiro Ricardo Stern. Marron, 39 anos, e Stern, 43, continuarão responsáveis pelas áreas que cuidam agora, tesouraria e clientes, respectivamente, e passarão a compartilhar o gerenciamento integral do banco. Wortman está feliz em deixar a direção brasileira do JP Morgan em um momento bastante favorável: o banco liderou os negócios de captações externas e o ranking de consultores de fusões e aquisições da América Latina em 2005. Este ano promete ser melhor, garantem os dois futuros co-heads. "O final de 2005 já foi forte e este ano emendou no anterior a toda velocidade", disse Stern, acrescentando que nem deu para sentir que era janeiro, um mês tradicionalmente fraco para os negócios no mercado financeiro. Para citar dois negócios de janeiro, o banco liderou a emissão pública de US$ 1 bilhão da Vale do Rio Doce; e completou a emissão internacional de US$ 200 milhões em títulos de cinco anos do frigorífico Friboi. Na área de fusões e aquisições, foi assessor da MolsonCoors na venda da participação de 68% da Cervejarias Kaiser para a Femsa Cerveza, por US$ 68 milhões. No final de 2005 o banco havia assessorado o governo brasileiro na oferta de bônus internacionais em reais no valor equivalente a US$ 1,5 bilhão. Além disso, assessorou a Votorantim Metais na compra de 25% da peruana Milpo por US$ 100 milhões. Wortman ressaltou que essas duas operações ilustram bem a proposta do JP Morgan de combinar a vantagem de ter plataformas no Brasil e no Peru, no caso da operação entre a Votorantim e a Milpo; e a capacidade de estruturar operações, no caso da emissão em reais da República. Especialista no mercado financeiro, Marron não espera maior volatilidade neste ano em função das eleições presidenciais. "As reformas estruturais estão dando frutos. As alternativas que o país possui não são muito diferentes do que está sendo feito atualmente. Não se esperam mudanças radicais", afirmou Marron. Wortman lembrou ainda que o cenário externo é favorável com a grande oferta de liquidez. Mas, para ele, "os maiores riscos são externos e não internos". Stern aposta em uma melhora significativa nos negócios de fusões e aquisições neste ano. "As empresas brasileiras estão bem financiadas, trocaram dívida e estão avaliando investimentos relevantes", afirmou, prevendo um movimento de expansão com aquisições no exterior. Outro bom negócio para o JP Morgan será a emissão de ações. O banco coordenou o lançamento de US$ 1,5 bilhão da Cemex em 2005; e, no Brasil, tem algumas operações engatilhadas para este ano. Por isso, reforçou o time de analistas. O JP Morgan liderou o ranking de fusões e aquisições completadas da Thomson Financial para a América Latina, assessorando 38 operações no valor total de US$ 23,168 bilhões, mais do que o dobro dos US$ 11,665 bilhões de 2004. No ranking brasileiro, ficou em terceiro lugar. Chegou a participar de aquisições feitas por empresas brasileiras mas assessorando a ponta vendedora. Foi o que aconteceu na compra da Loma Negra pela Votorantim, em que assessorou a família argentina vendedora. O JP Morgan Chase continua também acalentando o projeto de voltar ao varejo bancário brasileiro, provavelmente mediante alguma aquisição, conforme foi revelado ao Valor pelo chairman William Harrison, no final de junho. "Não há nada visível a curto prazo, mas estamos atentos às oportunidades", disse Wortman. Cubano naturalizado canadense, Wortman ainda não definiu a próxima missão no JP Morgan Chase. Mas, parece pronto para qualquer dificuldade depois do desafio que foi pilotar as operações brasileiras quando chegou ao país, em 2003, após um forte enxugamento de posições que antecedeu as eleições presidenciais. Marron trabalha há 14 anos no banco e já passou pelas unidades da Argentina e Estados Unidos, sempre na área de mercados emergentes. Está no Brasil há quatro anos. Stern saiu do JP Morgan em 2003 e voltou em maio. Não é a primeira vez que o JP Morgan tem um duplo comando no Brasil. Isso já aconteceu na década de 90. O banco de investimento internacional também tem dois co-heads, Steve Black e Bill Winters.