Título: BC reduz intervenção e dólar tomba 4,73%
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2006, Finanças, p. C2

Após reduzir a zero a fatia da dívida pública interna indexado ao câmbio, o Banco Central diminuiu pela metade o seu ímpeto de compras de moeda americana, permitindo que o dólar acumulasse em janeiro desvalorização de 4,73%. Como o BC está em vias de zerar também o passivo cambial externo, entende-se que, em algum momento de fevereiro, as intervenções serão ou interrompidas de vez ou atenuadas para um nível que não ofereça resistência ao declínio do dólar. A tendência à sobreapreciação do real só não acontecerá se o BC tomar medidas administrativas como a imposição de limites à formação, pelos bancos, de posições vendidas. Parte do mercado acredita que o BC irá enveredar-se por essa saída heterodoxa , em tudo oposta ao que vem fazendo no sentido de liberalizar as normas. E, por isso, essa porção do mercado reluta em fechar novas posições vendidas no pregão de dólar futuro da BM&F. Outra parcela de instituições acredita que o BC não tomará nenhuma decisão estranha aos princípios clássicos que defende e deixará o dólar cair. O choque das duas correntes persistiu provocando, ontem, volumes expressivos de negócios com os dois contratos mais curtos de dólar futuro. Na dúvida entre rolar posições vendidas secas ou assumir outras, casadas e menos arriscadas, enquanto não estiver absolutamente claro o que o BC irá decidir, os contratos, concentrados no que terá liquidação hoje e no que vencerá na virada de fevereiro para março, giraram ontem US$ 13 bilhões. A queda de 0,05% experimentada pelo dólar negociado à vista, cotado a R$ 2,2150, sugere a predominância ainda de posições vendidas. Têm lógica: todos os sinais são de que, cumprido o objetivo de zeragem completa exposições cambiais, o BC se retire do mercado, pois não há por parte dele a menor preocupação em evitar apreciação cambial que seja danosa a setores exportadores como os de calçados e têxteis. O fato que importa é o do superávit comercial gigante movido a venda de commodities valorizadas. Nessa hipótese, o dólar logo irá furar os R$ 2,20 e buscará R$ 2,15.

'Vendidos' ainda temem imposição de limites

O mercado externo favorece, apesar das incertezas geradas pelo comunicado destinado a "explicar" a decisão tomada ontem pelo Federal Reserve (Fed) de elevar o juro básico em 0,25 ponto, para 4,50%. Na verdade, a nota não esclareceu nada. Não houve a esperada sinalização de que o aperto monetário acabou. A nota diz que "podem" ocorrer novas altas de juros, quando a anterior afirmou que elas eram "prováveis". A era Ben Bernanke começa hoje no Fed e não se sabe bem o que fará. Enquanto há instituições de respeito, como o JP Morgan, prevendo que a taxa irá avançar até 5%, outras, de igual relevância, como a Merrill Lynch, sustentam que o arrocho já foi longe demais e logo o caminho será de queda. O cenário que se desenha para fevereiro é de ampliação do peso da âncora cambial contra a inflação. A Selic terá de persistir em queda de 0,75 ponto percentual nas próximas reuniões do Copom. Aos poucos, o pregão de juros futuros da BM&F começa a assimilar o recado. Ontem, a queda dos contratos foi generalizada, mas ainda modesta. Para as viradas do primeiro trimestre e do ano, as taxas cederam 0,01 ponto, para 16,93% e 15,90%, respectivamente.