Título: Gestores reclamam da falta de papéis para as carteiras
Autor: Adriana Cotias e Danilo Fariello
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2006, EU &, p. D1
Mesmo com os lançamentos recordes de papéis corporativos no ano passado, com quase R$ 55 bilhões, falta matéria-prima para compor as carteiras de renda fixa de crédito, segundo os gestores. "As empresas que contratam capital de giro com os bancos ainda têm resistência em assinar uma CCB (Cédula de Crédito Bancário), que é um título securitizável e que, portanto, poderia entrar num fundo", diz o diretor da Fibra Asset Management Fabio Watanabe. A pulverização de risco é outro ponto importante. Renato Ramos, diretor de Renda Fixa da gestora do HSBC, diz que ainda é difícil para o gestor de um fundo de crédito encontrar papéis para preencher a carteira, mantendo a diversificação do risco. "O fundo tem limites de concentração que impede que seja formado por títulos de poucas empresas." Ele conta que o HSBC Performance já chegou a fechar para captação por falta de papéis no mercado. "Mas com as emissões recentes, essas dificuldades diminuíram." A concorrência por ativos de qualidade, no entanto, tem sido grande, com algumas assets dispostas a comprar papéis com taxas abaixo do mínimo aceitável., diz o diretor de Investimentos do BNP Paribas, Gilberto Kfouri Júnior. Ele conta que não tem sido fácil encontrar ativos suficientemente atrativos para compor o portfólio do BNP Paribas Credit. "As empresas brasileiras estão numa condição de financiamento muito confortável e têm conseguido tomar recursos a custos mais baixos do que há dois, três anos", diz. Para Júlio Ziegelmann, superintendente executivo do Wealth Management Services do BankBoston, há dois anos, a maioria desses fundos tinha de ter até 10% da carteira investida em apenas uma empresa, o que significava alta concentração e hoje a situação é mais confortável, sendo possível manter 3% em cada ativo. Com a demanda reprimida, o quadro geral é que empresas e bancos continuam emitindo títulos com juros generosos, muitas vezes beirando a marca de 110% do CDI ou com cupom de até 10% ao ano acima do IGP-M. Por isso, a rentabilidade elevada dos fundos de crédito, cita Jorge Sant'Anna, superintendente de produtos da Câmara de Custódia e Liquidação (Cetip). Mas ele prevê que a expansão do mercado de dívida privada levará a uma redução das taxas pagas pelas empresas e, por conseqüência, da rentabilidade dessas carteiras. "A oferta ficará abundante e a demanda será preenchida." Para Watanabe, da Fibra, os fundos de investimentos em direitos creditórios (FIDCs, os chamados fundos de recebíveis) são um canal de atração de recursos mais natural para o investidor que quer risco privado do que os fundos de crédito. Isso porque a estrutura de um FIDC prevê a emissão de cotas subordinadas, que são adquiridas pelo próprio originador dos recebíveis, formando assim um colchão de liquidez que garante eventuais inadimplências. "Num fundo de renda fixa, o gestor não pode fazer provisão do crédito adquirido, o que seria razoável já que existe risco proporcional à rentabilidade." (AC e DF)