Título: Grupo CAOA se diz vítima de golpe
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 19/11/2004, Finanças, p. C-1
A revendedora de veículos CAOA, do empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, vai entrar na Justiça contra o Banco Santos nos próximos dias por não reconhecer débitos reclamados pelo banco. "Precisamos mostrar ao Banco Central e à comunidade financeira que a CAOA não é devedora", disse o advogado Fábio Luchesi, que representa a CAOA e já preparava a ação quando foi surpreendido pela intervenção do BC, sexta-feira. A CAOA, disse o advogado, chegou a dever cerca de R$ 20 milhões e liquidou todas as operações há aproximadamente seis meses. Mas, o Banco Santos, de Edemar Cid Ferreira, reclama uma dívida de R$ 180 milhões. Luchesi afirmou que o Banco Santos fabricava as operações, criando "créditos fictícios" para alavancar o balanço e o caixa. O balanço do Santos de junho registra que a maior concentração dos créditos do banco é na área de veículos. Da carteira de R$ 3,086 bilhões, 8,36% ou R$ 258,103 milhões foram emprestados a tomadores desse setor. Segundo Luchesi, a CAOA é uma das maiores vítimas das exigências de reciprocidade do banco, que acabava inflando as dívidas. Para obter crédito, teve que tomar recursos em volume muito acima do que precisava, e investir a diferença em títulos escolhidos pelo Santos. Conhecida no mercado como "bate e volta", a operação era chamada internamente de "M", segundo uma fonte. Em uma ocasião, a CAOA investiu em debêntures de uma empresa não financeira de Edemar Cid Ferreira, a Santos Par. Em outra, parte dos recursos foi transferida pelo próprio banco para uma instituição que, segundo Luchesi, Edemar tem no exterior, o Bank of Europe, no paraíso fiscal caribenho de Antígua. Luchesi contou que a CAOA tomou crédito no Banco Santos em operações de conta garantida, carta de crédito para importação e chegou a manter um crédito rotativo de até R$ 10 milhões. Para explicar como funcionava o esquema do Banco Santos, Luchesi contou que, em uma das operações, a CAOA precisava levantar R$ 2 milhões, mas foi persuadida a captar R$ 10 milhões. A diferença, R$ 8 milhões, foi destinada à compra de debêntures da Santos Par. Na sequência, o banco fez uma "side letter", assumindo o compromisso de recompra dos papéis. Em uma conta gráfica, ia contabilizando os juros a pagar pelo empréstimo e os juros a receber pelas debêntures. "Só que o crédito custava muito mais do que o investimento rendia", disse Luchesi. Segundo o advogado, "só recentemente" o Santos reclamou o débito da CAOA. Há cerca de um mês, o presidente do Banco Santos, Edemar Cid Ferreira, chamou para uma reunião o presidente do CAOA, à qual também compareceu o Luchesi. Na reunião, Edemar disse que a CAOA devia um saldo de R$ 180 milhões ao banco. Se fossem descontados R$ 120 milhões aplicados pela revendedora de veículos em títulos do banco e de empresas não financeiras do grupo do banqueiro, sobrariam R$ 60 milhões. Se pagasse R$ 20 milhões, porém, tudo ficaria liquidado. Para o advogado, Edemar já estava propondo desconto porque enfrentava problemas de caixa no banco. A CAOA, porém, não quis desembolsar mais nada. Uma primeira auditoria, disse Luchesi, revelou que a empresa devia muito menos, R$ 23 milhões, o que já teria sido pago com o retorno das debêntures. "A CAOA pode até se tornar credora", disse Luchesi. Lucchesi afirmou que está também representando duas outras empresas envolvidas em operações semelhantes. Em um caso, para captar recursos do BNDES, a empresa teve que aplicar em certificado de depósito bancário (CDB) do Santos. No outro, um conglomerado teve a conta corrente movimentada sem que soubesse.