Título: Setores têxtil, calçadista e mecânico preparam demissões, aponta FGV
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 02/02/2006, Brasil, p. A2

As indústrias têxtil, de calçados e mecânica são os ramos que mais pretendem demitir neste primeiro trimestre do ano. Por outro lado, em segmentos como a metalurgia, química e produtos alimentares há mais empresas planejando ampliar ou pelo menos manter o quadro de funcionários do que fechar postos de trabalho. É o que revelam dados mais detalhados da Sondagem da Indústria de Transformação, divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Para o coordenador da pesquisa, Aloisio Campelo, as indústrias ligadas ao vestuário sofreram não só com a queda das exportações em razão da valorização do real ante o dólar ao longo de 2005, mas também com uma maior concorrência de produtos importados. Já o caso do ramo da mecânica, "reflete a falta de investimentos das empresas em máquinas e equipamentos", diz. Além disso, completa o economista, o desempenho abaixo do esperado do setor agrícola também contribui para a menor venda de maquinário não só em 2005 como também neste início de ano. Apesar de não aparecer entre os setores mais pessimistas para este começo de ano, a indústria de móveis não entrou com o pé direito em 2006. Domingos Sávio Rigoni, presidente da Abimóvel, associação que representa as empresas do setor no país, diz que uma melhora para o setor poderá vir do mercado interno, já que câmbio valorizado não tem ajudado as exportações, mas que as empresas ainda não deram sinais de contratações. Em 2005, pelos dados do Ministério do Trabalho, a indústria de madeira e mobiliário fechou 20,4 mil postos. "Com a queda do desemprego e o aumento da massa salarial que estamos vendo, acredito que o setor poderá ir melhor neste ano." No entanto, Rigoni diz que no ranking de intenção e compras do consumidor, os móveis aparecem apenas em 6º lugar. Por outro lado, na indústria de alimentos, setor intensivo em mão-de-obra, 32% das empresas ouvidas pela FGV pretendem admitir novos funcionários e 16% desejam fazer o contrário. O ano começou bem na Itambé, indústria de alimentos, que tem a perspectiva de contratar mais 100 pessoas para trabalharem no setor de vendas. No fim do ano passado, a empresa aumentou em 8% o contingente de empregados, pois abriu duas novas unidades. "Estávamos trabalhando com utilização quase total da capacidade instalada, por isso investiram em duas novas unidades: Uberlândia e Goiânia", diz Jacques Gontijo, vice-presidente da empresa. Para 2006, a perspectiva é de que a produção cresça 20%, o mesmo resultado obtido entre 2004 e 2005. A aposta da Itambé é aumentar especialmente as vendas de iogurtes, pois são itens sensíveis ao aumento de renda. No entanto, Gontijo pondera que a perspectiva para a exportação não é boa, devido ao câmbio pouco favorável. A Associação das Indústrias Brasileiras de Alimentos (Abia) também aposta na continuidade do emprego no setor: entre 3,5% e 4,5% neste ano, acompanhando o mesmo ritmo da produção. Amílcar Lacerda de Almeida, diretor-econômico, diz que o setor começa o ano acreditando em movimento contínuo de queda de juros que vai dar maior fôlego ao mercado interno. Almeida conta que já há empresas contratando desde o fim do ano antecipando o aumento da demanda. A Marisol, empresa do setor têxtil que exporta somente 6% da sua produção, espera que o mercado interno eleve as receitas em 16% em 2006, o que levaria a um aumento de 6,3% no número de pessoas empregadas, passando de 6.305 para 6.700 funcionários. Serão números mais robustos do que a Marisol apresentou em 2005. No setor de calçados, a Democrata caminha contra a corrente e tem conseguido aumentar suas exportações mesmo com o câmbio pouco favorável. Em 2005, a empresa aumentou em 9,5% seu quadro de funcionários, uma vez que a produção cresceu, em volume, 8% no mercado interno e 15% nas exportações. Em 2006, com a abertura de uma nova fábrica no Ceará, a Democrata vai contratar entre 160 a 200 funcionários, o que equivale a um aumento de 9% a 11%.