Título: Em São Paulo, só uma cidade
Autor: Maakaroun, Bertha
Fonte: Correio Braziliense, 16/05/2010, Política, p. 8

Estado em que o embate entre petistas e tucanos é dos mais acirrados no país, em São Paulo há uma única cidade ¿ Guapiara, na região de Itapetininga ¿ em que tucanos e petistas partilham em harmonia a administração municipal. Com 15.408 eleitores e um perfil econômico agrícola, as receitas correntes de Guapiara giram em torno de R$ 700 mil ao mês, aos quais, o repasse do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) dá a principal contribuição. ¿Estamos juntos desde 1996¿, comemora o prefeito Flávio de Lima (PSDB), referindo-se ao PT. No ecletismo político do município, também há espaço para o DEM na aliança. ¿Estão conosco no governo além do PSDB e do PT, o DEM, o PV, o PSB e o PTB. Oposição aqui são PMDB e PP¿, acrescentou Flávio de Lima. O leque de apoios do município para os deputados estaduais e federais será igualmente amplo. ¿Quem nos ajudou vai ser ajudado. Quem trouxe emendas terá retorno¿, avisa o prefeito tucano. Já nas campanhas ao governo de São Paulo e à presidência da República, em princípio, cada qual pedirá votos para o seu candidato. ¿Os grupos ficam livres. Cada um apoia quem quer. Vou ficar com o José Serra. O vice com a Dilma Rousseff.¿ Igualmente variada é a formação do governo da pequena Nova Ramada, que tem 2.083 eleitores, um orçamento anual de R$ 8,5 milhões e se localiza no Noroeste do Rio Grande do Sul. O prefeito Elton Rehfeld (PT) comanda uma aliança que engloba o PDT, o PTB, o PSDB e o PC do B. A oposição na cidade é formada por PP e PMDB. ¿Temos uma composição no governo: prefeitos e secretários em horário de trabalho não se envolvem com a campanha. Fora do horário, cada partido faz a sua campanha de vinculação de votos¿, explica Rehfeld. Para ele, tantos partidos em sustentação à prefeitura ajudam a cidade a não perder, seja qual for o resultado no plano nacional ou no plano estadual. No Rio Grande do Sul, disputam o governo do estado PT, PSDB e PMDB, sendo que o último já anunciou coligação ao PDT.

Eu também O cientista político e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais Fábio Wanderley Reis tenta explicar essas relações aparentemente inusitadas. ¿Os líderes locais jogam e apostam nas maiores possibilidades de viabilizar os interesses do governo. Com bom trânsito nas esferas administrativas, ao exibir realizações, cativam o seu eleitorado e a sua permanência no poder local.¿ Ao mesmo tempo, a dinâmica pragmática e realista que se verifica nesses municípios é ainda reforçada pelo que Fábio Wanderley Reis considera, neste momento, a incerteza quanto ao cálculo de quem vencerá as eleições presidenciais. ¿A isso se associa a tradição do coronelismo e ainda, do ponto de vista estritamente ideológico, há mais razões para a convergência do que para a divergência entre petistas e tucanos¿, diz o cientista referindo-se à retórica empregada por José Serra, que mais o aproxima do que o afasta de Lula. ¿O Serra joga neste momento o que os analistas americanos chamam de o jogo do eu também, o que no caso brasileiro se traduz no discurso eu também sou Lula.¿ (BM)

Controle até do voto

Em Arantina, no sul de Minas Gerais, o prefeito Paulo Henrique Pires (PSDB) está à frente de um grupo político eclético, que reúne não apenas o PT ¿ vice em seu governo ¿ como também o PMDB e o PSB. Do outro lado, o inimigo comum: um democrata. ¿O casamento aqui deu certo. Convivemos muito bem¿, garante o prefeito. As campanhas políticas são administradas sem ressentimentos. ¿Cada um faz campanha para o seu candidato a presidente e para o seu candidato a governador¿, diz ele, referindo-se ao fato de o PT e o PMDB em Minas tentarem entabular um palanque único para Dilma Rousseff, enquanto o PSDB irá lançar o governador Antônio Augusto Anastasia (PSDB) para a reeleição e sustentar a candidatura de José Serra (PSDB). Na campanha proporcional, há ainda menos constrangimentos. ¿Temos um grupo de deputados federais e estaduais de diferentes legendas. Aqui não tem paraquedista e nunca faltam emendas orçamentárias para a cidade¿, afirma Paulo Henrique. ¿Nosso grupo se organiza ajudando um pouco cada um. Eu controlo para que um candidato não tenha mais voto que o outro, mantendo o grupo unido¿, acrescenta ele, que tem de administrar uma cidade pobre, com 2.682 eleitores, cujas receitas correntes mensais não superam R$ 400 mil, a maior parte composta pelo repasse constitucional do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Situação política parecida vive o prefeito de Estrela do Norte, em Goiás, Orcino dos Reis Braga (PSDB), cujo vice é petista. No Norte goiano, a 360 quilômetros de Brasília, a pequena cidade tem 2.532 eleitores e receita corrente mensal de cerca de R$ 400 mil ¿ lá, o FPM também é o principal repasse. ¿Aqui cada um tem o seu espaço no governo. Eu tenho o meu, o vice tem o dele. Nós nos damos bem e ajudamos a cidade, pois ganhe PT ou ganhe PSDB estaremos no governo¿, afirma Orcino. O grupo político de oposição no município é formado pelo PMDB e pelo PSB. (BM)

PREFEITOS DO PT COM VICE DO PSDB Camaçari (BA) Cruz das Almas (BA) Curaçá (BA) Lauro de Freitas (BA) Castelo (ES) Belo Oriente (MG) Congonhas (MG) Cordisburgo (MG) Guapé (MG) Ibiracatu (MG) Leme do Prado (MG) Manhumirim (MG) Naque (MG) Recreio (MG) Rubelita (MG) São Félix de Minas (MG) Ubá (MG) Vieiras (MG) Pombal (PB) São Gonçalo do Gurgueia (PI) Sebastião Barros (PI) União (PI) Ipanguaçu (RN) Candiota (RS) Sapiranga (RS) Dionísio Cerqueira (SC) São João do Sul (SC) Pedra Mole (SE)