Título: Corretora contradiz Marcos Valério e diz que repassou 6,5 milhões
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 02/02/2006, Política, p. A14

Em depoimento ontem à CPI dos Correios, o sócio e diretor da corretora Bônus-Banval, Breno Fischberg, entrou em contradição com Marcos Valério de Souza. Ao prestar contas das operações realizadas a pedido do empresário, o investidor apresentou uma lista de beneficiários do esquema do valerioduto diferente daquela entregue à CPI pelo próprio Marcos Valério. Fischberg apresentou resultado de auditoria contratada para analisar as movimentações financeiras da Bônus-Banval. O documento mostra que a empresa Natimar repassou R$ 6,5 milhões para serem administrados pela Bônus-Banval a pedido de Marcos Valério. Esse dinheiro foi distribuído a diversas pessoas, escolhidas por Valério, que é o dono das agências SMP&B e DNA. A história difere daquela contada pelo empresário mineiro. Segundo sua versão, ele teria repassado e distribuído R$ 3,5 milhões à corretora. Fischberg tentou comprovar sua versão, apresentando comprovação de pagamento de CPMF sobre os repasses feitos aos beneficiários indicados por Valério. As diferenças não param por aí. Fischberg apresentou lista com os 90 repasses feitos a pedido de Valério. A relação, segundo os sub-relatores de Fundos de Pensão, Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), e de Movimentações Financeiras, Gustavo Fruet (PSDB-PR), é diferente daquela entregue por Valério à CPI. "É curioso porque a lista entregue pelo Breno Fischberg não tem quase nenhuma daquelas pessoas ligadas a Marcos Valério. Fica difícil saber em quem acreditamos. Precisamos de mais documentos para aprofundar isso", disse Fruet após o depoimento. A única semelhança entre as duas listas - a de Valério e a de Fischberg - é a presença de beneficiários ligados ao deputado e líder do PP na Câmara, José Janene (PR). A Bônus-Banval é tida pela CPI dos Correios como a ponte entre o esquema montado por Valério e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares para repassar dinheiro ao PP e ao PL. A lista também apresenta como grande beneficiária a Erst Ltda, de Lúcio Funaro, tido na CPI como doleiro e partícipe do esquema de distribuição de recursos a políticos. Há também suspeitas de que ele seja o dono da corretora Guaranhuns, que teria intermediado o repasse de R$ 6,5 milhões ao presidente do PL, o ex-deputado Valdemar Costa Neto. Funaro nega todas as acusações e diz que nunca foi sócio da corretora. Pela relação repassada ontem por Fischberg, R$ 1,2 milhão foram para a Erst Ltda. Se apresentou documentos e uma relação de nomes no caso do dinheiro repassado a pedido de Valério, Fischberg não teve o mesmo êxito ao falar dos prejuízos das operações feitas pela Bônus-Banval com os fundos de pensão Sistel, Geap e Prece. ACM Neto mostrou aos demais deputados o resultado do estudo feito pelos técnicos da CPI sobre as movimentações da corretora. Quando administrou investimentos da Prece, a Bônus-Banval teve 81% de suas operações trabalhando no negativo. No caso da Sistel, os prejuízos foram detectados em 87% das operações. Em relação à Geap, 92% das negociações foram deficitárias. "O desempenho é ruim para os fundos", afirmou ACM Neto. E comparou: "Nas operações com o mercado, apenas 49% foram negativos. Há uma clara diferença de resultados". Fischberg tirou a responsabilidade da corretora. "Só posso atribuir isso ao gestor. Só cumpro ordens. Sou o corretor", afirmou. Segundo ele, cabia aos fundos determinar a realização das operações. Nesse momento, houve certa tensão entre ACM Neto e Fischberg. O corretor acusou o deputado de olhar apenas um lado da história. "É preciso analisar todos os investimentos. Só está sendo olhado o lado que lhe interessa", afirmou. O sub-relator replicou: "Tudo nos interessa. Quem perdeu dinheiro aí não foi o administrador do fundo, mas os trabalhadores. Precisamos saber os motivos dos prejuízos. A Sistel perdeu R$ 9 milhões e faturou apenas R$ 600 mil". O ex-diretor da Bônus-Banval José Pompeu de Campos Neto, também convocado, não compareceu e nem foi encontrado pela Polícia Federal.