Título: Para CNI, 2005 tirou espaço para mais contratações
Autor: Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2006, Brasil, p. A3

As indústrias não têm ambiente favorável para contratar mais empregados neste início de ano. Essa é uma das conseqüências do desempenho "frustrante" do setor durante o ano passado, segundo a análise do coordenador da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco. "Não há perspectiva de sair dessa estagnação, o que nos leva a acreditar que não vai haver crescimento do emprego. Não se trata de queda, mas de arrefecimento", justificou o coordenador econômico da CNI. A CNI divulgou seus Indicadores Industriais em 2005. O cenário mostrou sobre o ano anterior variação discreta para as vendas reais (2,03%). O levantamento da entidade aponta que o crescimento no total do pessoal empregado (4,18%) e das horas trabalhadas na produção (4,54%) foram um pouco superiores ao da vendas. O uso da capacidade instalada - 80,7% no encerramento do ano, contra 82,9% em dezembro de 2004 - revelou os impactos da freada provocada pela dura política monetária, mas a retração do indicador também refletiu a maturação dos investimentos. O maior crescimento medido pela CNI em seus indicadores foi nos salários líquidos reais ou massa salarial: aumento de 8,1% sobre 2004. Castelo Branco diz que esse comportamento teve como causa a queda da inflação. A CNI reconhece que o aumento de 4,18% observado no indicador de pessoal empregado é uma variação recorde. Em 2004, o crescimento foi de 3,5% sobre o ano anterior. Mas na análise da entidade, o mercado de trabalho industrial deu sinais de desgaste no segundo semestre de 2005. No último trimestre do ano passado, esse indicador de pessoal empregado recuou 0,15% sobre o período anterior. E, no terceiro trimestre, já tinha registrado queda de 0,10%. De acordo com a CNI, as vendas reais da indústria foram frustrantes no ano passado, com aumento de apenas 2,03% sobre 2004. Mas o sinal que preocupou os economistas da entidade foi o movimento registrado em dezembro. A variação foi negativa em 2,38%, considerando os aspectos sazonais. Em novembro, elas tinham aumentado 3,8% sobre outubro. Segundo a pesquisa da CNI, faltou dinamismo na atividade industrial no final do ano passado. No quarto trimestre de 2005, as vendas foram 0,43% menores que as do período anterior. Esse fenômeno foi relevante porque a base de comparação já tinha sido fraca. No terceiro trimestre, a entidade registrou queda de 0,87% sobre as vendas do segundo trimestre. Mais uma vez, apesar do sinal positivo verificado na média das vendas em 2005 (2,03%), o que preocupou a CNI foi o movimento do faturamento no final do ano passado. "As vendas foram frustrantes porque o câmbio e os juros mantém uma relação de gangorra. Quando um está alto, o outro está baixo", afirmou Castelo Branco referindo-se à cotação da moeda americana. Na análise da CNI, os juros altos foram o principal fator inibidor da atividade industrial e o câmbio também prejudicou o faturamento das indústrias exportadoras. Na opinião de Castelo Branco, o consumo doméstico, que foi relativamente bem em 2005, não é suficiente para "reacender" a economia. Para isso, o coordenador da CNI afirma que é necessário impulso da política monetária, com juros menores. Comentando os efeitos que os maiores gastos públicos em anos eleitorais podem provocar, Castelo Branco alertou para o problema que isso traz no aspecto fiscal. "Desequilíbrio fiscal gera mais carga tributária, coisa que a sociedade não suporta mais", disse. O economista da CNI elogiou as palavras do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ditas ontem em São Paulo. Segundo Castelo Branco, foi bom ouvir que "todo o esforço fiscal de três anos não será jogado fora no último ano do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva".