Título: Animado com pesquisa, Lula cumprimenta manifestantes
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2006, Política, p. A4

Em ritmo de campanha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem o que há muito não fazia, em Brasília, desde que estourou a crise política: ele desceu do carro oficial para cumprimentar manifestantes em frente ao Ministério da Educação. O estilo de campanha nas ruas da capital havia desaparecido com a crise política. O máximo que Lula arriscava era cumprimentar populares em viagens pelo interior do país. Animado pelos números da recente pesquisa Datafolha mostrando que recuperou a popularidade perdida com a crise, Lula voltou a saudar os populares. O presidente participou, no auditório do Ministério da Educação, de cerimônia de sanção de projetos de concessão de bolsas para professores na área de pesquisa. Bem-humorado, declarou que as "coisas feitas pelo Ministério da Educação poderiam ter sido feitas há 15, 20 anos, mas nem sempre acontecem no tempo que têm para acontecer. Tinha que acontecer agora, aconteceu agora". Destacou propostas de seu governo, como a criação do Fundeb, que ainda não foi totalmente aprovada pelo Congresso, e a reforma universitária. "Não tenho dúvida nenhuma de que ela será aprovada, porque nós precisamos fazer uma grande e necessária reforma universitária, onde a autonomia seja definitivamente uma conquista e não uma peça de discurso de campanha", prometeu Lula. O presidente destacou ainda a aprovação da lei estabelecendo que as crianças "vão ter nove anos de ensino". "O que vocês produziram - eu digo, o Congresso Nacional - e o que vocês fizeram foi estender para milhões e milhões de crianças pobres o que outras crianças já tinham, de poder se preparar para entrar no ensino fundamental", celebrou. Aplaudido depois do discurso, Lula, que chegara por uma porta lateral do MEC para que o comboio não passasse no meio da manifestação, esperou no saguão do auditório enquanto o ministro da Educação, Fernando Haddad, ia até a porta do Ministério conversar com os servidores. Eles reclamavam da demora na aprovação de um plano de carreira para a categoria. "Neste governo, estamos há três anos lutando para que nossos dirigentes entendam a importância de uma carreira para a educação", cobrava uma carta distribuída pelos manifestantes. Haddad aplainou o terreno. "O Ministério do Planejamento já aprovou o plano de carreira de vocês e ele vai entrar em vigor ainda este ano", prometeu o ministro. Com o ambiente desanuviado, surgiu Lula acenando para os manifestantes. Os gritos de "Plano de Carreira já" foram substituídos por "Olê, olê olê olá, Lula, Lula lá". O presidente acenou para os populares, ameaçou entrar no carro, desistiu e foi abraçar os servidores.