Título: Presidente pede a ministros que fiquem até 31 de março
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2006, Política, p. A4

Eleições Lula só deve fazer reforma ministerial no início de abril

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva orientou os ministros candidatos a permanecerem nos cargos até a data limite para a desincompatibilização, que é 31 de março. Lula quer evitar que o afastamento dos ministros provoque desestabilização política ou administrativa exatamente quando começa a recuperar-se nas pesquisas de intenção de votos. As duas principais preocupações do presidente, conforme interlocutores ouvidos pelo Valor, são a conclusão da Operação Tapa-Buracos e a finalização dos trabalhos das CPIs no Congresso. Caso haja turbulência política ao fim do processo de investigação das CPIs, Lula quer, por exemplo, que o ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner, conduza as articulações no Congresso e faça a ponte para o diálogo com o Executivo. Diante da decisão do presidente, a reforma ministerial, motivada pelas candidaturas de ministros, só será feita em abril. Nas conversas sobre a campanha eleitoral com aliados próximos, Lula deixa claro que quer no comando da reeleição o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Como há dúvidas sobre se a melhor estratégia é deixar Palocci no ministério ou afastá-lo para dedicar-se exclusivamente à campanha, a decisão só deverá ser tomada em maio ou junho. Palocci não pretende disputar a eleição de outubro e já sinalizou que prefere ficar no ministério. Uma parte do governo considera inviável conciliar a permanência no ministério com a coordenação geral da campanha. A escolha de Palocci como principal articulador da campanha não significa que Lula queira centralizar as decisões políticas e estratégicas. Ao contrário, o presidente considera necessário ter vários aliados atuando na campanha, um em cada área específica. Além de conceber o programa político, com a ajuda de economistas ligados ao PT e ao governo, Palocci teria também a função de reaproximar Lula do setor empresarial. O PT pressiona o ministro Jaques Wagner a candidatar-se para o governo da Bahia. Em conversas reservadas, o petista busca uma aliança discreta inclusive com o ex-prefeito Antônio Imbassahy, recém filiado ao PSDB. Ex-carlista, Imbassahy deverá concorrer a uma vaga no Senado, enquanto Wagner disputaria o governo. Os petistas apostam ainda numa coligação mais ampla com o prefeito de Salvador, João Henrique, do PDT. O pedetista impôs uma das maiores derrotas ao carlismo na Bahia e seu secretariado é composto por políticos do PT, PSDB e PDT. Wagner analisaria ainda uma possível aliança com o PL. O objetivo da ampla coligação seria impedir a reeleição do governador Paulo Souto, afilhado político de ACM. Outro ministro que deve deixar o posto em março é Paulo Bernardo, do Planejamento. O petista não concorrerá ao governo do Paraná, por decisão consensual do diretório regional do partido. Deve ser lançado ao governo o senador Flávio Arns, caso seja de fato inviável uma aliança com o governador Roberto Requião (PMDB). O mais provável, até o momento, é que Bernardo dispute a reeleição para deputado. Como é bastante conhecido na região, a candidatura aumentaria as chances do PT de eleger uma bancada maior na Câmara. Também deverão ser candidatos a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) e Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário). Marina pode disputar novamente o Senado ou o governo do Acre. Rosseto, por decisão consensual do PT gaúcho, disputará o Senado. O ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, poderá disputar o governo do Amazonas pelo PL. Pelas conversas conduzidas até o momento, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, não será candidata. Ela também deverá auxiliar o presidente na campanha eleitoral.