Título: Crescimento forte depende de "acordo social", diz Palocci
Autor: Juliano Basile e Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2006, Especial, p. A12

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse ontem que o Brasil "vai atingir níveis de crescimento mais vigorosos" se houver um "acordo social" no país. "Em que prazo o Brasil quer crescer a níveis de 5%? Para isso, precisa ter esforço, é necessário um acordo sobre níveis tributários, níveis de gastos e programas que serão feitos." Em seminário em São Paulo, Palocci afirmou que as "lideranças da sociedade precisam ter uma ação suprapartidária, de acordo nacional, sobre a velocidade que nós queremos dar ao crescimento do país". Palocci não esclareceu como seria esse "acordo social", que também seria importante para o Brasil se tornar em poucos anos "grau de investimento" (classificação dada pelas agências de rating a países considerados mais seguros). Segundo ele, é preciso definir que "esforço haverá no âmbito da despesa, do tributo, das reformas e que esforço governo e sociedade farão para ter juros menores e crescimento maior". "Alguns países fizeram ajustes como o nosso e resolveram o problema num certo prazo; outros fizeram ajustes mais fortes e tiveram melhoras num prazo mais curto", comparou. "Mas essa não é uma decisão do ministro da Fazenda, é uma decisão do Brasil." Para Palocci, não há espaço para relaxamento fiscal no momento. "Se devemos fazer um esforço complementar é para reduzir gastos, para dar eficiência aos gastos. Palocci disse que países que seguiram com mais "profundidade" o caminho de austeridade fiscal adotado pelo Brasil, como Chile, Irlanda e Espanha, "tiveram resultados espetaculares". Ele insistiu na importância do entendimento. "Se tivermos esse acordo independentemente de partidos políticos, e o Brasil souber caminhar nesse sentido, vamos ter um belo ano democrático em 2006, de bons debates para o futuro do país." Palocci traçou um quadro otimista para o crescimento neste ano. Disse que a desaceleração de 2005 foi fruto da política monetária e do impacto da crise política. Mas, como os juros estão em queda e há sinais de melhora da confiança de empresários e consumidores, a economia deve crescer com mais força. A atividade deve se expandir também com base no aumento da massa real de salários e do crédito. A inflação sob controle, a queda da dívida pública e a robustez nas contas externas criam perspectivas para crescimento acelerado "em 2006 e nos anos seguintes", disse. O otimismo de Palocci não foi compartilhado por outros participantes do seminário. O ex-presidente do BC Ibrahim Eris avaliou que a economia pode crescer 3% ou um pouco mais neste ano, impulsionado por aumento de gastos públicos, o reajuste do mínimo e a redução dos juros. Mas um crescimento mais vigoroso é difícil, dado o nível dos juros. Para ele, um regime de metas de inflação muito rígido, com alvos ambiciosos em prazos curtos, ajuda a explicar o nível das taxas. Também atrapalha a qualidade da política fiscal, baseada em elevação de receitas e gastos e baixo investimento. O economista Eduardo Giannetti da Fonseca também mostrou-se cético. Para ele, o país só avança com força quando há muita capacidade ociosa, como em 2004. Esses movimentos não têm continuidade, porém, porque o investimento em capital físico e capital humano é muito baixo. Ele lembrou que 40% da renda nacional passa pelas mãos do Estado (37% da carga tributária e os 3% do déficit fiscal), mas isso não apenas não se traduz em investimento público como inibe inversões privadas.