Título: Orsa investe em fábrica de produtos certificados
Autor: Natalia Gómez
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2006, Empresas &, p. B1
Madeira Projeto de US$ 10 milhões visa atender demanda da Europa
O aumento do consumo de madeira certificada, especialmente no mercado europeu, que utiliza o material até em obras públicas, tem estimulado as empresas brasileiras a investirem no setor nos últimos anos. Com isso, o Brasil já se tornou o sexto maior no ranking mundial de área certificada, com 3,5 milhões de hectares. Em 2001, a área era inferior a 1 milhão de hectares. No entanto, ganhar o mercado interno ainda é um grande desafio para as companhias, que exportam 80% da sua produção para escapar da concorrência da madeira ilegal e não-certificada. É o caso da Orsa Florestal, braço do grupo Orsa. Constituída em 2004 para atender a demanda crescente por madeira certificada no mercado mundial, a empresa está investindo US$ 10 milhões em uma unidade de beneficiamento de madeira, que ficará pronta em 2007 para produzir pisos e molduras de portas em Monte Dourado (PA). Sua capacidade produtiva, de mil m³ de madeira serrada por mês, passará a 4 mil m³ de produtos com maior valor agregado, como pisos, molduras de portas e peças prontas para telhados, segundo afirmou seu presidente, Roberto Waack. Assim como os outros fabricantes do setor, a Orsa planeja enviar a maior parte de sua produção para clientes europeus de países como Holanda e Alemanha. O principal motivo da opção é a baixa utilização da madeira certificada (com o selo internacional FSC, que garante adequação ambiental, trabalhista e legal na extração) no Brasil, onde o produto ilegal custa menos da metade do preço e a não-certificada é até 30% mais barata. O aumento do consumo também esbarra na preferência brasileira por alguns tipos de madeira, que não são produzidos em grandes volumes nas florestas com selo FSC. "O manejo responsável nos impede de oferecer as madeiras mais procuradas em grandes volumes", explica o diretor técnico de outra fabricante, a Ecolog, Juarez Deltrejo, Na Europa, diz Waack, a resistência ao uso de novas espécies é menor e existem mais estudos da indústria a respeito. Outro entrave é o custo de transporte do material das reservas, concentradas na Amazônia, até a região Sudeste, principal consumidora. A Orsa Florestal, por exemplo, afirma que é mais barato exportar para a Alemanha a partir de seu porto no Rio Jari do que usar transporte rodoviário. Além disso, o limite mínimo de 40 m³ para justificar uma viagem de caminhão faz com que os pedidos demorem muito para chegar em São Paulo. Enquanto a madeira comum chega em São Paulo em três dias, a certificada pode demorar até 40 dias. A demanda, que tem crescido entre fabricantes de móveis, como a Etel Carmona, e alguns distribuidores, como a revendedora Ecoleo, ainda é pequena no setor de construção civil. Um dos projetos pioneiros é o loteamento Gênesis II, em Alphaville, que utiliza esse tipo de material. Foi desenvolvido pelas construtoras Gafisa e a Takaoka. Até o final da obra, em setembro, o projeto vai consumir 200 m³ de madeira com selo verde, segundo o presidente da Takaoka, Marcelo Takaoka. "A boa origem da madeira aumenta a percepção de valor do cliente", diz. A fabricante paulista de madeira Ecolog, que nos últimos três anos investiu R$ 80 milhões no setor de madeira certificada e adquiriu uma área de 30 mil hectares em Rondônia, ainda não conseguiu nenhum contrato na área de construção, apesar de ter participado de várias concorrências. Com esse entrave, o mercado interno representa apenas 20% dos seus negócios. Outros 30% são consumidos pela área de engenharia da própria empresa e os 50% restantes são exportados para a Holanda e para a França. Com florestas no Pará, a Cikel também tem aumentado a participação no Brasil a passos lentos. Desde 2002, a exportação passou de 90% dos negócios para 75%, graças ao avanço do uso em marcenaria. "Existe alguma conscientização sobre o FSC entre os designers, mas não entre os consumidores finais", explica gerente de meio ambiente da Cikel, Leonardo Sobral, que vende madeira serrada, compensados e pisos. Na rede de lojas Tok & Stok, por exemplo, os produtos de madeira certificada não têm preços maiores que os de madeira comum, segundo o diretor Ademir Bueno. "O cliente não está disposto a pagar mais caro", afirma. A empresa utiliza o material apenas pelo benefício para sua imagem, e não pelo preço, uma vez que os custos são absorvidos pela rede e por seus fornecedores. A dificuldade no acesso à matéria-prima e a restrição nos tipo de madeira disponíveis são alguns dos maiores entraves para o uso do insumo, segundo ele. Com a mesma dificuldade, a revenda de madeira certificada em São Paulo, Ecoleo, vê boas perspectivas para o aumento do consumo na construção civil, mas a oferta do material ainda é baixa. "A oferta não é do mesmo tamanho da vontade", diz a gerente Karla Aharonian. Mesmo assim, a empresa. fundada há dois anos, deverá representar 15%, até 2008, do faturamento do grupo Leo Madeiras, ao qual pertence.