Título: EUA e China disputam mercado brasileiro de sutiãs de silicone
Autor: Vanessa Barone
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2006, Empresas &, p. B6

Moda íntima Boom de consumo nos últimos dois anos, o produto é vendido no varejo oficial e em camelôs

A silhueta de seios volumosos de algumas mulheres brasileiras não é necessariamente obra de cirurgia plástica. Pode ser um truque relativamente novo da indústria de lingerie: suportes de seios de silicone que são fixados na pele com adesivo - como se fosse uma prótese externa. O modismo contagiou praticamente todas as lojas de roupa íntima. No varejo oficial, os modelos custam entre R$ 150 e R$ 350, e nos camelôs, onde a novidade também já chegou, o preço é na faixa de R$ 20. O boom do sutiã de silicone teria ocorrido após a cerimônia do Oscar de 2004, quando algumas atrizes de Hollywood usaram o produto que segura os seios e deixa as costas nuas. De lá pra cá, várias mulheres passaram a adotar o modelo como substituto do sutiã convencional. O problema é que, pelo menos no mercado brasileiro, nem todos os modelos desse sutiã têm garantia de procedência ou fazem o que prometem: ser usado por até 100 vezes, sem que o adesivo que adere ao seio perca sua ação. Ele deveria ficar firme no lugar, mesmo que a usuária dance a noite inteira. Depois do uso, bastaria lavar o produto e deixá-lo secar naturalmente (segundo as instruções na embalagem) para que ele voltasse ao estado original - com a cola intacta. Alguns produtos não trazem essas e outras informações básicas, na embalagem, como nome e endereço da empresa importadora - ou da fabricante. "Há muitos produtos piratas no mercado, que além de confundir as clientes não têm a mesma durabilidade", diz o empresário Marcelo Schmiliver, diretor da Universe Indústria e Comércio, importadora exclusiva do Nubra, sutiã de silicone criado pela americana Bragel Internacional. "Os artigos chineses não possuem laudo que comprovam a segurança e usam cola imprópria, com metais pesados na composição." A cola usada na fixação do Nubra, da Bragel, segundo o empresário, tem aprovação do órgão americano FDA (Food and Drug Administration) para uso dermatológico. Segundo Schmiliver, a Bragel foi quem criou o produto, em 2002. Praticamente, no mesmo ano, o sutiã chegou ao Brasil, trazido pela Universe. A Bragel tem a patente do produto em vários países, incluindo os Estados Unidos. "No Brasil, ela também foi requerida, naquele ano, mas até hoje o processo não foi concluído", lamenta o empresário. Isso permite que produtos feitos por outras empresas - principalmente chinesas, entrem livremente no mercado. De acordo com o website da Bragel, em outubro a corte chinesa aceitou a sua denúncia de pirataria contra um antigo representante, dono da empresa Watson, que estaria falsificando o Nubra, na China e em Hong Kong. Diante da concorrência chinesa, no Brasil, Schmiliver calcula uma queda de 70% nas vendas do produto. "Até o começo de 2005, vendíamos 5 mil unidades por mês. Hoje, não chegamos a mil." O impacto só não foi maior porque a Universe comercializa outros acessórios para lingeries, sob a marca Underforms - como extensores de alças e enchimentos para sutiãs. "A queda no faturamento global da nossa empresa foi de 25%." Com sede na Califórnia, a Bragel é especializada em artigos de silicone para diversos usos, inclusive para próteses. Em 1989, a empresa já havia criado uma espécie de bolsa de gel de silicone para ser usada dentro do sutiã, que recebeu o nome de "breast enhancer" (ou realçador de seios). No Brasil, o Nubra é vendido em lojas multimarcas de lingeries como a Jogê, que vende cerca de 300 unidades por mês. "A procura, na maior parte das vezes, é espontânea", diz Ângela Coelho da Fonseca, proprietária da Jogê. Normalmente, as clientes do produto são mulheres que querem aumentar o volume dos seios. A rede multimarcas de lingeries Meia de Seda já vendeu o Nubra mas, recentemente, resolveu substituir o produto por um similar - o Invisibelbra, importado pela Polishop. "As clientes tiveram a mesma satisfação com o produto, por um preço mais acessível", justifica Mércia de Oliveira, gerente de desenvolvimento de produto da Meia de Seda, que tem 13 lojas próprias em São Paulo. Segundo Mércia, o produto vem da China. O sutiã de silicone é um dos campeões de venda na loja. Durante o mês de dezembro, segundo Mércia, foram vendidas 800 peças. A indústria de lingerie tradicional há tempos despertou para a necessidade da mulher brasileira de aumentar os seios. A Valisère, por exemplo, desde 1999, dispõe de um sutiã cujo bojo é recheado de água e óleo. "Ele aumenta e dá consistência aos seios", explica Renata Kherlakian, estilista da grife. A Valisère também tem sutiãs com enchimentos de espuma, que levantam e aumentam o busto. "Esse tipo de produto tem consumidoras fiéis."