Título: Sob Lula, safra ainda não superou anos FHC
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2006, Agronegócios, p. B12

Grãos Conab prevê produção de 124,4 milhões de toneladas; no governo anterior, recorde foi de 123,2 milhões

O governo Lula se esforça para colher em seu último ano de mandato o mesmo volume recorde de grãos herdado da gestão Fernando Henrique Cardoso. Por duas safras, o clima adverso frustrou as previsões de bater em 130 milhões de toneladas de grãos. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) previu ontem uma colheita de 124,4 milhões de toneladas de grãos na atual safra 2005/06, que se estende até junho. A produção na safra 2002/03, plantada sob a política do governo FHC, somou 123,2 milhões de toneladas. As fortes secas no Sul e as chuvas excessivas no Centro-Oeste, de fato, atrapalharam um avanço maior. Mas a freada na expansão da produção também deve-se à forte perda de renda dos produtores - em 2005, foram R$ 17 bilhões a menos -, a conseqüente queda na liquidez do setor e aos efeitos da política macroeconômica, com a valorização do real frente ao dólar e a redução de recursos para o setor. A demora do governo em agir completou o cenário. Por outro lado, as frustrações evitaram os temores do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, de administrar uma temida "crise de abundância". Também não foi possível testar os gargalos logísticos e de infra-estrutura que surgiriam numa supersafra. Mas a Conab avisou que a atual previsão pode ser reduzida ainda por fatores climáticos. Um novo veranico no Sul, como o de janeiro, e a forte seca em andamento no Nordeste devem afetar o resultado final da safra. "Nossa projeção não contabiliza os prejuízos com a seca nordestina", disse o presidente da Conab, Jacinto Ferreira. Pelos números divulgados ontem, os produtores de grãos colherão 9,3% mais do que na safra anterior (2004/05) num área 4,3% menor - 46,8 milhões contra 48,9 milhões de hectares. "Isso mostra uma boa evolução na produtividade da soja e milho", afirmou Eledon Pereira Oliveira, gerente de Avaliação de Safra. Na safra passada, as duas principais cultura haviam sido prejudicadas pela seca no Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás. Turbinada pela falta de liquidez dos produtores, altamente endividados em razão de investimentos dos últimos três anos, a área plantada caiu 30% no algodão, puxada sobretudo por Mato Grosso e Goiás; 20% no arroz, também estrelado por uma redução recorde de 466 mil hectares (-60%) em Mato Grosso; e 5% na soja, que perdeu 1,15 milhão de hectares por causa dos preços baixos no exterior e a menor rentabilidade em comparação ao milho e a cana-de-açúcar. Carro-chefe da produção nacional de grãos, a soja deve alcançar 58,17 milhões de toneladas nesta safra, alta de 13,1% sobre a colheita anterior. A área deve cair 5%, para 22,15 milhões de hectares. Cultura de alto valor agregado e que exige altos investimentos, o algodão também foi prejudicado pela queda nas cotações internacionais. A área deve cair 30% para 825,8 mil hectares nesta safra. Segundo a Conab, a produção da pluma deve totalizar 1 milhão de toneladas, 23% menos que as 1,29 milhão da safra anterior. Ao mesmo tempo, há boas novidades. O milho deve ter estabilidade na oferta. Apesar de isso significar preços mais baixos aos produtores. A produção de milho nesta primeira safra de 2005/06 está estimada em 32,87 milhões de toneladas, alta de 20,5% sobre as 27,27 milhões de toneladas da safra 2004/05. A produção da safrinha de milho tem projeção de 8,8 milhões de toneladas contra 7,7 milhões de toneladas da safra anterior. Com isso, a colheita total de milho deve alcançar 41,66 milhões de toneladas, resultado 19% superior às 34,97 milhões de toneladas de 2004/05. No caso do milho, a produtividade média das lavouras deve aumentar 14%, chegando a 3.318 quilos por hectare contra 2.909 quilos da safra anterior.