Título: Projeto 'revê' escoamento no Vale do São Francisco
Autor: Conrado Loiola
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2006, Agronegócios, p. B12

Logística

Os governos federal e da Bahia negociam com a iniciativa privada a renovação do sistema de transporte de cargas agrícolas na região do Vale do São Francisco. O projeto inclui a integração da hidrovia do São Francisco com a BR 242 e a Ferrovia Centro Atlântica (FCA), num corredor de exportação multimodal de cerca de 1,4 mil quilômetros de extensão com origem no oeste da Bahia e destino nos portos baianos de Aratu e Salvador. Segundo Clementino Coelho, diretor de Engenharia da Companhia para o Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), o valor estimado das obras para o funcionamento do corredor, batizado de Corredor Multimodal do São Francisco, é de R$ 770 milhões. "A economia no frete seria de 25% ao ano", calcula ele. O plano da Codevasf, com base em estudos da consultoria Booz Allen Hamilton, é fazer a concessão a empresas particulares da estrada BR 242, que liga Luís Eduardo Magalhães, no oeste da Bahia, a Ibotirama, no mesmo Estado, em um trecho de aproximadamente 300 quilômetros. Segundo Coelho, a empresa concessionária deverá fazer a manutenção das vias, mas o pedágio deverá ser cobrado somente de automóveis transportadores de cargas. A segunda fase desse corredor será a Hidrovia do São Francisco, que apresenta sérios problemas de navegação em virtude do baixo nível das águas em períodos de estiagem. Segundo Coelho, o governo pretende oferecer às empresas agroindustriais que atuam na área uma Parceria Público-Privada (PPP) administrativa. "Estamos preferindo o PPP para fugir de 'recursos orçamentários', que são muito imprevisíveis". Conforme o diretor, a estrutura da hidrovia está montada, mas existem cerca de 35 pontos "críticos" na hidrovia, em que barcos com calado (profundidade da embarcação na água) muito alto não conseguem prosseguir viagem ou precisam trafegar com volumes de cargas menores do que poderiam. "Mas são problemas fáceis de serem resolvidos. Os investimentos não devem ultrapassar R$ 100 milhões". Os contêineres embarcariam na hidrovia na altura de Ibotirama e partiriam em sentido nordeste até Juazeiro e Petrolina. Já a parte ferroviária, o principal elemento estruturador do sistema, inclui a renovação da FCA, cuja concessionária é a Companhia Vale do Rio Doce, que não quis se pronunciar sobre a negociação. Além das melhorias na estrutura dos 500 quilômetros da ferrovia, seriam necessários investimentos na construção de ramais de ligação entre as vias e os terminais portuários e os armazéns. A Codevasf projeta necessidade de investimentos de cerca de R$ 400 milhões. Miguel Noronha, consultor especialista em infra-estrutura da Booz Allen Hamilton, diz que, hoje, toda a carga agrícola da região é transportada por caminhões, o que deixou as estradas em estado "lastimável" . "Hoje, os pólos avícolas do Nordeste são abastecidos com soja e milho da Argentina, porque, às vezes, chega mais fácil de navio do que pelas estradas", afirma Noronha. Para ele, a concretização do projeto traria a expansão da fronteira agrícola no Estado. "Só um terço das áreas agricultáveis são utilizadas na região. O potencial de crescimento é muito grande", diz o consultor. Segundo Coelho, as obras podem provocar um salto na capacidade de produção anual da região, de 6 milhões de toneladas de grãos para 15 milhões de toneladas.