Título: Brasil pode alcançar grau de investimento, diz Levy
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2006, Finanças, p. C1

O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, previu ontem que o próximo governo terá todas as condições de conseguir das agências de rating a classificação de grau de investimento para a economia brasileira. "Esse não é um fim em si, mas a manifestação da evolução em várias áreas cujo efeito será baixar os custos de financiamento das empresas, aumentar o acesso ao capital e facilitar o investimento", disse Levy. Ele afirmou que os últimos três anos foram marcados por grandes lucros para as empresas, mas essa rentabilidade não se traduziu em maiores níveis de investimento na economia. Uma das razões que explicam o fenômeno, segundo Levy, é o ambiente microeconômico, ou seja, as dificuldades que uma empresa enfrenta se quiser, por exemplo, investir em um projeto de geração hidrelétrica. Na visão de Levy, a queda da taxa de juros de médio prazo é fundamental para estimular o investimento na economia. Levy participou, no Rio, do seminário Cenários da Economia Brasileira e Mundial em 2006, promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Presente ao encontro, o diretor-executivo do Banco Mundial para o Brasil, Otaviano Canuto, concordou com Levy sobre a melhoria futura da avaliação do país pelas agências classificadoras de risco. Canuto disse que, se o Brasil se mantiver dentro da atual linha de ajustamento macroeconômico, alcançará o grau de investimento "em dois ou três anos", entrando no rol daqueles países que recebem investimentos de fundos de pensão dos países ricos nos papéis da sua dívida. "Agora, é preciso lembrar que esse processo não pode ser tomado como garantido, porque ele depende de que se continue fazendo o que vem sendo feito." Segundo Canuto, é esperado que na agenda econômica do país para 2007 seja incluída uma melhoria na qualidade do ajuste fiscal, com melhor aproveitamento dos gastos. "Se isso for feito é possível projetar, a partir da redução da relação dívida/PIB e da mudança da composição da dívida, a obtenção do grau de investimento." Segundo Canuto, se o Brasil se concentrar nas tarefas que tem a fazer para seguir aperfeiçoando seus fundamentos macroeconômicos, a reavaliação do risco de crédito do país "virá como resultado natural". Para Levy, a melhoria da questão fiscal não passa só pelo superávit primário mas por garantir que o investimento tenha mais rentabilidade. "Agora a sociedade está preparada para ir à raiz de certos problemas fiscais", afirmou. A discussão, enfatizou, passa pela discussão dos gastos com a Previdência Social. Ele reconheceu que as despesas com Previdência, como percentual do Produto Interno Bruto (PIB), estão crescendo. Mas disse que a mudança na governança da Previdência já mostra resultados positivos, como a redução dos gastos com o auxílio doença. As despesas do INSS, que equivaliam a 2,5% do PIB em 1994, ficaram em 7,6% em 2005. E devem subir para 7,9% em 2006. "Esse é o principal problema da economia brasileira", disse o economista Fábio Giambiagi, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que também participou do debate. Giambiagi mostrou o crescimento do gasto público, que saiu de 7,1% do PIB, em 2004, para 10,1% em 2005. "Precisa ser estabelecido um teto para o gasto público corrente como proporção do PIB."