Título: Câmbio valorizado reduz preço de máquinas, mas não incentiva compras
Autor: Vera Saavedra Durão, Francisco Góes e Catherine Vi
Fonte: Valor Econômico, 06/02/2006, Brasil, p. A3

O barateamento de máquinas e equipamentos importados, por força da valorização do real, deixou de ser um estímulo para o investimento pela indústria em um cenário de crescimento contido da economia doméstica. A falta de incentivo para investir se dá pela retração do mercado interno e pelo fato de que a apreciação do câmbio reduz a competitividade das empresas na exportação. Bens de capital e calçados vão reduzir investimentos este ano, enquanto têxteis e autopeças devem manter níveis de desembolsos semelhantes aos de 2005. "Isso não significa que não haja empresas se modernizando e investindo", diz Francisco Eduardo Pires de Souza, assessor da diretoria de Planejamento do BNDES. Mas se for considerada a economia como um todo, parece prevalecer o efeito negativo, em termos de estímulo ao investimento, resultante da combinação de um câmbio apreciado e de um mercado interno sem grande crescimento, diz Souza. Elcio Jacometti, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), diz que a tendência é de queda do investimento este ano em função do câmbio apreciado e da dependência do setor das exportações. "Não conseguimos concorrer com os chineses", diz. Para Paulo Butori, presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), as matrizes das empresas do setor consideram que é muito caro investir hoje no Brasil. Ele informou que estudo da Booz Allen feito sob encomenda do Sindipeças, em 2005, indicou que o setor deveria investir US$ 5 bilhões em três anos para acompanhar o crescimento dos mercados interno e externo. Em 2006, o setor deve investir cerca de US$ 1 bilhão. Synésio Batista, presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), diz que o ambiente de negócios no Brasil, incluindo a estrutura tributária, "sufoca o empreendedorismo". Mesmo assim ele diz que o setor deve lançar 1,6 mil produtos em 2006, número 45% maior do que o de 2005. Souza, do BNDES, afirma que é preciso entender que há sempre efeitos positivos e negativos sobre o investimento, derivados da apreciação da taxa de câmbio. Ele diz que, em qualquer hipótese, a valorização do câmbio tem sempre o efeito de aumentar a participação dos bens de capital importados e de reduzir a fatia no bolo dos bens de capital domésticos na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) em máquinas e equipamentos. Em 2004, com a economia crescendo mais forte, o investimento total na economia, medido pela FBCF, representou 19,6% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo dados preliminares. Para 2005, a estimativa é de um índice um pouco maior, de 19,9%. No ano passado, o investimento em equipamentos representou 6,5% do PIB, projeção superior aos 6% de 2004. Júlio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), estima que este ano o investimento pode chegar a 22% do PIB. Ele considera que setores exportadores devem travar o investimento em função da taxa de câmbio, com exceção dos casos em que o preço compensa a perda de rentabilidade (minério, petróleo e aço). Almeida acha que seria preciso que o investimento atingisse 25% do PIB para que a economia crescesse 5% ao ano.