Título: Ritmo de expansão do investimento privado deve diminuir este ano
Autor: Vera Saavedra Durão, Francisco Góes e Catherine Vi
Fonte: Valor Econômico, 06/02/2006, Brasil, p. A3

Conjuntura Em vez de abrir novas plantas, empresas se limitam a modernizar e fazer a manutenção de unidades

O investimento privado deve crescer este ano num ritmo menor do que nos últimos dois ou três anos. Segundo especialistas, as empresas devem investir mais em manutenção e modernização e menos em novas unidades e grandes expansões, movimento que já ocorreu em maior escala no período anterior. Câmbio valorizado, juro elevado, eleições e nível de atividade ainda fraco são fatores que contribuem para fortalecer essa tendência. A exceção nesse quadro fica por conta dos setores atrelados a commodities. Pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), feita no fim do ano passado para medir a intenção de investir de 1.015 empresas mostra que 38% delas planeja expandir investimentos este ano, diante de 52% que projetavam aumento no fim de 2004. E cerca de 22% planejam investir menos este ano, enquanto esse percentual era de 8% no ano passado. Um estudo da corretora Ágora Sênior mostra que o valor investido pelas principais companhias abertas brasileiras, que respondem por 90% do Ibovespa, foi de R$ 49,31 bilhões em 2004 e de R$ 64,78 bilhões em 2005. Para este ano é projetado um valor de R$ 76,72 bilhões. Ou seja, de 2004 para 2005 o investimento dessas companhias cresceu 31% e para este ano a projeção é que cresça 18%. O estudo ressalta que essa média é puxada para cima pelos setores de mineração, petróleo e siderurgia, que são fortes na bolsa. "Não é que o investimento privado vá decrescer. Vai crescer num ritmo menor, porque tivemos nos últimos anos grandes rodadas de investimentos em função de alguns setores que mudaram de patamar", avalia Nelson Rocha Augusto, presidente da BBDTVM. "O setor exportador, por exemplo, cresceu muito nos últimos três anos. Mas é difícil imaginar que com esta taxa de câmbio os exportadores continuem com muito apetite em investir. Uma parte da decisão de investimento agora estará ligada ao mercado interno." Nesse caso, um setor que poderia surpreender é o da construção civil, beneficiado com o novo ciclo de queda do juro e de aumento do investimento público, cita Augusto. Para ele, a criação de novas linhas de crédito imobiliário e o novo pacote do governo poderão reforçar essa expectativa. O setor de produtos alimentares, também mais voltado para o mercado doméstico, foi o único entre os 21 gêneros levantados na pesquisa da FGV que apresentou resultados superiores aos de 2005. Cerca de 66% das empresas do setor trabalham com a intenção de ampliar investimentos, ante 58% no ano passado. Aloísio Campelo, coordenador da pesquisa de investimento, disse que o menor ânimo para investir ocorreu com mais intensidade nas categorias de uso: bens intermediários, bens de consumo, material para construção e bens de capital. Esse último foi o que apresentou maior declínio na intenção de investir este ano, com 46% das empresas prevendo aumento de investimento, ante 71% em 2005, enquanto a parcela dos que iam investir menos subiu de 8% para 32%. "Deu uma desacelerada forte", disse Campelo, lembrando que também o nível de capacidade instalada do setor encolheu para 76,9% em janeiro deste ano, ante 83,2% em janeiro de 2005. Entre os 21 gêneros de produtos levantados pela FGV, cinco apresentaram saldos negativos, ou seja, o percentual dos que pretendem diminuir investimento é superior aos que querem aumentar. Nesta lista estão mobiliário, têxteis, farmacêutica, vestuário e calçado. Newton de Melo, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), disse que neste ano o setor vai investir entre R$ 5,5 bilhões e R$ 6 bilhões, valor inferior em 12% ao do ano passado. Números preliminares da entidade indicam que o investimento em bens de capital em 2005 foi de R$ 6,8 bilhões, bem abaixo da expectativa inicial, que era de R$ 8 bilhões. "O câmbio é o contingenciamento que afeta a indústria nacional", diz Melo. Fernando Pimentel, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), disse que o setor vem investindo nos últimos dez anos US$ 1 bilhão por ano, em média. "O setor têxtil tem uma nata de empresas que investem de forma permanente, mas precisamos nos preocupar também com as empresas menores, que estão em situação mais difícil devido ao aperto monetário e do câmbio apreciado." Segundo Marco Melo, da Ágora Senior, houve uma rodada forte de investimento em alguns setores nos últimos anos que não irá se repetir. Já as companhias abertas estão com uma geração de caixa muito forte. "O fluxo de caixa livre que no passado era menor, dado a necessidade de altos investimentos, agora cresce numa uma taxa de 40%, enquanto os investimentos aumentam menos da metade disso", diz Melo. Segundo ele, isso significa que elas poderão pagar mais dividendos ou, em alguns casos, adquirir ativos no mercado. Nos setores atrelados a commoditties, o quadro é diferente. "Nesses existe ainda uma demanda aquecida e uma perspectiva de alta de preços. Por isso, siderurgia, mineração e petróleo terão uma estratégia de investimento maior, que puxam a média para cima, no caso das companhias abertas."