Título: Indústria puxa o PIB
Autor: Bancillon, Deco; Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 18/05/2010, Economia, p. 15

Renda maior e expansão do consumo levam a CNI e o mercado a aumentarem as projeções de crescimento

O bom desempenho da economia nos primeiros meses deste ano, com o crescimento do emprego, da renda e do consumo, levou a Confederação Nacional da Indústria (CNI) a rever suas projeções para 2010. Pelas contas dos economistas da entidade, o Produto Interno Bruto (PIB) passará de um aumento de 5,5%, previsto em dezembro do ano passado, para uma elevação de 6% no acumulado do ano.

A revisão do PIB também se reflete no cenário de investimentos, que devem crescer 18% este ano. O dado anterior era de um aumento de 14%. Para a CNI, haverá uma expansão na capacidade produtiva das empresas, mas não deve ser suficiente para conter a alta da inflação. Tanto que elevou sua projeção para o comportamento dos preços de 4,7% para 5,4% ao longo do ano, acima do centro da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,5%.

Na avaliação do economista Marcelo Azevedo, da CNI, esse quadro será reforçado pela alta do consumo das famílias, que deve crescer 6,2% este ano, e pela queda do desemprego, que deve cair para 7,2% (ante projeção anterior de 7,6%), o menor patamar da história do Brasil. Estamos vendo uma expansão muito forte da economia, que está sendo liderada pela retomada da indústria, disse. A CNI projeta uma alta de 8% para o PIB industrial, ante previsão anterior de 7%. Para que se chegue a esse número, porém, a atividade produtiva tem de elevar-se em pelo menos 12% este ano, ressaltou a entidade.

Os números estão alinhados com as previsões do mercado, que reviu para cima a expectativa de expansão da produção industrial, passando de uma alta de 10,30% para 10,40%. A pesquisa Focus com cerca de 100 especialistas da área financeira também trouxe números melhores para a previsão de crescimento econômico. Os analistas elevaram, pela nona semana seguida, a estimativa para a evolução do PIB este ano. A nova projeção passou para 6,30% (na semana anterior era de 6,26%).

No mesmo ritmo da alta do crescimento da economia, o mercado continua apostando em mais inflação neste ano. Os analistas das instituições financeiras que responderam o relatório Focus, do Banco, Central aumentaram de 5,50% para 5,54% a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano. Segundo o economista Eduardo Velho, da Prosper Corretora, o mau humor do mercado não vai parar por aí. O pacote fiscal anunciado pelo governo foi muito reduzido, insuficiente para conter o consumo público, observou. Por isso, está claro para os analistas que o crescimento permanecerá acelerado e que a conta para segurar a inflação, também em alta, cairá, mais uma vez, no colo do BC.

CAI DEMANDA POR CRÉDITO A demanda das empresas por crédito recuou 5,1% em abril na comparação com março. A desaceleração ocorreu, segundo a Serasa Experian, em função de o mês ter menor quantidade de dias úteis. O desempenho no período também foi influenciado por um leve aumento nas taxas reais para pessoas jurídicas 0,06 ponto percentual de alta em igual base de comparação. Entre as empresas tomadoras de crédito, somente as grandes não registraram queda. Obtiveram variação nula no mês. Para as médias, a retração foi de 0,7% e para as pequenas, 5,3%. A despeito dos números negativos, técnicos da Serasa garantem que a procura por esses recursos não vai andar para trás, como em 2009. O recuo representa apenas um arrefecimento na busca por financiamentos e que, nos próximos meses, deve voltar a crescer, mas de maneira mais moderada em função do aperto monetário.

Estamos vendo uma expansão mito forte da economia, que está sendo liderada pela retomada da indústria

Marcelo Azevedo, economista da Confederação Nacional da Indústria