Título: PT ainda se divide entre coligações e a candidatura própria nos Estados
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 06/02/2006, Política, p. A5

Desgastado com a crise política, o PT viverá o dilema de dar prioridade, na eleição de outubro, a candidaturas majoritárias de outras legendas nos Estados para assegurar um amplo apoio à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, especialmente do PMDB. Em mapeamentos feitos por seus dirigentes, os petistas têm chances de vitória em três Estados - Sergipe, Acre e Mato Grosso do Sul - e quadros competitivos em São Paulo, Rio Grande do Sul, Piauí, Rondônia e Bahia, caso se confirme a candidatura do ministro Jaques Wagner. Prováveis candidatos majoritários ao governo resistem a desistir da disputa em favor de aliados de Lula. O quadro eleitoral permanece instável em vários Estados em função da possível queda da verticalização das alianças, a regra que impede os partidos de realizar composições regionais distintas da união feita nacionalmente. Segundo Gleber Naime, coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) do PT, as candidaturas só devem ser definidas em abril, assim como a política de alianças. "O PT vai ter que ceder espaços nos Estados. Para sustentar candidaturas próprias, elas terão que ser fortes e competitivas. Acredito que o partido está mais maduro, e que o potencial de alianças crescerá muito com o fim da verticalização", analisou o líder do governo no Senado e pré-candidato ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante. As candidaturas consideradas fortes são de Marcelo Déda em Sergipe, Delcídio Amaral em Mato Grosso do Sul, e de candidato ainda indefinido no Acre. A alta popularidade do governador Jorge Viana no Acre garantirá a vitória do sucessor, apostam os petistas. Os candidatos poderão ser a ministra Marina Silva (Meio Ambiente), o senador Tião Viana ou o atual vice-governador Arnóbio Marques. Também seriam competitivas as candidaturas da senadora Fátima Cleide em Rondônia, de Olívio Dutra no Rio Grande do Sul, de Mercadante ou Marta Suplicy em São Paulo e do ministro Jaques Wagner na Bahia. Wellington Dias, que tentará a reeleição no Piauí, também é considerado competitivo. O PT decidiu lançar nomes históricos e de alta popularidade para candidaturas ao Senado e à Câmara, numa estratégia que visa à manutenção de bancada expressiva de deputados e a dar ânimo à militância. Cogita-se, por exemplo, lançar Marta Suplicy (SP) e a ex-senadora e ex-ministra Emília Fernandes (RS) a deputadas. No Sul, também será lançado a deputado o prefeito de Caxias do Sul, Pepe Vargas, para puxar votos. O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, deve disputar uma cadeira no Senado. Por consenso, o PT gaúcho desistiu da prévia e vai lançar o ex-ministro e ex-governador Olívio Dutra ao governo. Já Tarso Genro deverá ficar sem candidatura para dedicar-se ao programa da reeleição de Lula. "O PT gaúcho está vacinado contra prévias desnecessárias. A dor ensina a gemer", brincou o líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS). "Acreditamos que a bancada federal do PT será mantida ou até ampliada. O PT foi o partido mais votado para deputado federal em 2002 com 18,4%, seguido do PSDB, PFL e PMDB com aproximadamente 14% cada um. Seguramente o PT, no mínimo, repetirá o desempenho obtido", afirmou Gleber Naime ao Valor. Outra estratégia será levar a polarização Lula-FHC aos Estados, apoiando candidaturas contrárias ao PSDB. Animados com a recuperação gradual da popularidade de Lula, o PT também definiu que as campanhas estaduais estarão diretamente vinculadas às ações do governo federal. A cúpula do PT aposta as fichas na disputa paulista, apesar do receio com os desdobramentos de divergências internas. Lula e a direção partidária nacional preferem Mercadante, mas a ex-prefeita Marta Suplicy ainda articula a disputa nas prévias. Ela teria chances, pois controla a maioria no diretório regional. Independente do escolhido, o PT acredita que a ausência de um nome forte do PSDB ou do PFL dá mais fôlego ao embate, ainda que o apoio do governador Geraldo Alckmin a um candidato tucano não seja nada desprezível. Por ora, uma aliança do PT com o PMDB em São Paulo ainda é vista como improvável. O ex-governador Orestes Quércia liderou a última pesquisa Datafolha de intenção de votos, mas tanto no PT quanto em outras legendas os políticos consideram mais plausível apostar numa candidatura do pemedebista ao Senado. Como o PT não abrirá mão da candidatura de Eduardo Suplicy, a aproximação entre as duas legendas é um desejo de difícil realização. A reforma ministerial só deve ocorrer em março, devido ao prazo para desincompatibilização de ministros que vão concorrer às eleições. Os ministros Jaques Wagner e Paulo Bernardo aguardam orientações de Lula para decidir sobre candidaturas na Bahia e no Paraná, respectivamente. Na Bahia, o petista teria chances, mas a disputa será acirrada. O governador Paulo Souto (PFL) tentará a reeleição. O fim da verticalização poderá animar o PSDB a lançar o prefeito de Salvador, Antônio Imbassahy. Não estaria descartada, inclusive, uma aliança entre o PT e o PSDB contra o controle pefelista. No Paraná, o PT poderá apoiar o governador Roberto Requião (PMDB), o que dificultaria o lançamento de Paulo Bernardo ao governo. O PT também deve apoiar o PMDB em Goiás, com Maguito Vilela, no Amazonas, com Eduardo Braga, no Espírito Santo, com Paulo Hartung, na Paraíba, com Ney Suassuna e em Minas Gerais, com Hélio Costa.