Título: Cresce onda de violência árabe motivada por charges de Maomé
Autor: Agências internacionais
Fonte: Valor Econômico, 06/02/2006, Internacional, p. A7

Os países europeus, sobretudo os nórdicos, temem que os ataques a suas representações diplomáticas se espalhem rapidamente pelo Oriente Médio, depois que milhares de manifestantes incendiaram ontem o consulado dinamarquês em Beirute (Líbano), em protesto às controversas caricaturas do profeta Maomé publicadas na imprensa. A Dinamarca exortou líderes religiosos e políticos árabes a frearem a atual onda de violência. O incidente ocorreu um dia depois de as embaixadas dinamarquesa e norueguesa serem atacadas por uma multidão irada em Damasco, a capital síria. Ambos os governos condenaram os ataques e exigiram garantia de segurança para seu corpo diplomático. "É totalmente inaceitável que governos não garantam a segurança das embaixadas em seus países", disse o chanceler dinamarquês Per Stig Møller. De acordo com ele, os ataques aos países nórdicos - que tradicionalmente se mantêm fora de conflitos internacionais - ameaçam o funcionamento de todo o sistema diplomático. Os ataques também foram condenados pelos EUA, que haviam apoiado os países islâmicos que se sentem ofendidos com as charges. "O fracasso do governo sírio em dar segurança diante dos sinais de violência é imperdoável", disse a Casa Branca em pronunciamento. Em Beirute, cerca de 200 mil pessoas marcharam em direção ao consulado da Dinamarca, muitas carregando faixas onde se lia "Quem quer que insulte o profeta Maomé deve ser morto". Os manifestantes destruíram carros, prédios e até uma igreja das redondezas, apesar do envio de 2 mil homens da polícia de choque. "As pessoas envolvidas nestes atos não têm nenhuma ligação com o Islã ou com o Líbano", defendeu o premiê libanês Fouad. O ataque levou à renuncia no fim do dia do ministro do Interior, Hassan Al-Sabaa, após reunião de emergência do gabinete libanês. "Tínhamos duas opções: manter as pessoas afastadas do consulado, o que tentamos, ou usar armas. Nunca daria ordens de atirar contra libaneses", disse o ministro. Ao menos 174 pessoas foram presas. O caso está causando um conflito diplomático, comercial e cultural de proporção ainda difícil de mensurar. Nos países árabes, muçulmanos estão boicotando a empresa dinamarquesa de laticínios Arla Foods, que teve de suspender sua produção na Arábia Saudita e deu férias coletivas para seus empregados. O boicote custaria US$ 1 milhão por dia, disse a empresa. A Dinamarca retirou da Síria e do Líbano a maior parte de seu corpo diplomático e recomendou aos cidadãos dinamarqueses que evitem os dois países. O governo exortou ainda os líderes locais para que contenham a escalada de violência. "Peçam a suas populações para que permaneçam calmas e acabem com a violência", disse Møller. A Noruega irá reclamar à ONU. "Condenamos a falta de proteção da Síria e iremos à ONU porque isso viola a lei internacional", disse o premiê Jens Stoltenberg. "O governo sírio é responsável pela segurança dos diplomatas e vamos pedir compensação pelos danos". Os protestos contra as caricaturas do profeta - publicadas inicialmente por um jornal dinamarquês e reproduzidas em diversos diários europeus - varreram países muçulmanos. O Islã considera blasfêmia retratar o profeta. Uma das caricaturas coloca Maomé como um terrorista - ele usa uma bomba na cabeça. Os jornais europeus alegam estar defendendo a liberdade de expressão.