Título: A Itália entre seis e meia-dúzia
Autor: Matthew Lynn
Fonte: Valor Econômico, 06/02/2006, Opinião, p. A9

Embate político na eleição não fará qualquer diferença nas perspectivas econômicas

Ninguém pode acusar o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi de falta de entusiasmo. Aos 69 anos, ele lançou-se numa tentativa de reeleição com energia esfuziante. Ele prometeu até mesmo não fazer sexo antes da eleição. A disputa em 9 de abril entre Berlusconi e Romano Prodi, ex-presidente da Comissão Européia (CE), que lidera a oposição, está muito apertada, sem um favorito discernível. Alguns meses atrás, parecia seguro que Prodi venceria. Os investidores não precisam se preocupar. O embate político não fará qualquer diferença nas perspectivas para a economia italiana. A Itália está diante de uma monótona escolha entre seis e meia-dúzia, ou melhor, entre desaquecimento econômico e estagnação. Os italianos poderão eleger um líder que promete um reaquecimento econômico - e quase certamente não cumprirá a promessa. Ou um líder que sequer promete uma retomada de crescimento. Seja quem vencer, a economia italiana continuará travada no que parece ser uma depressão permanente. Em vez da Alemanha, agora é a Itália o elo mais fraco na zona do euro. A Casa das Liberdades, coalizão quadripartidária comandada por Berlusconi, tinha o apoio de 46% do eleitorado, contra 53,6% em favor da União, a coalizão de Prodi, disse Ekma Ricerche. A coordenadora de pesquisas de intenção de voto entrevistou mil adultos em 30 de janeiro. Trata-se apenas de uma amostra, porém muitas pesquisas recentes revelaram o estreitamento da diferença entre os dois líderes. A maioria das disputas políticas tende a ficar mais apertada com a aproximação do dia da eleição. Angela Merkel tinha uma enorme vantagem nas pesquisas de intenção de voto como líder de oposição na Alemanha, mas acabou tendo de aceitar a formação de uma coalizão complicada com seus adversários políticos quando tornou-se primeira-ministra. A única conclusão segura é que a eleição na Itália será uma disputa apertadíssima. Depois da eleição, qualquer dos dois candidatos poderá ter conquistado o poder - ou nenhum deles. A Itália precisa de uma liderança política forte. Seu desempenho econômico tem sido deprimente. E as perspectivas são sombrias. "Não estamos em último lugar na Europa", disse Berlusconi em janeiro num debate sobre a economia. "Há muitos outros em pior condição."

O país necessita de uma liderança política forte, pois seu desempenho econômico tem sido deprimente e as expectativas são sombrias

Essa afirmação é, para dizer o mínimo, discutível. Se há uma economia européia em pior estado, seria preciso uma lente para encontrá-la. Quando assumiu o poder, Berlusconi acenou com um milagre econômico, prometendo baixar impostos e criar mais de 1 milhão de novos empregos. E os resultados? Durante seu mandato, por duas vezes a economia entrou em recessão, seus déficits e endividamento incharam, e o país é o menos competitivo entre as 12 nações européias, segundo o Fórum Econômico Mundial. Em 2006, a taxa de crescimento italiana ficará abaixo da média na zona do euro pela nona vez em dez anos, segundo previsões da CE. Berlusconi não foi capaz de cumprir suas promessas relativas à economia - seja porque não está interessado ou porque não foi capaz de reunir a força política para isso. E Prodi levou a Itália a abraçar o euro. Ele está associado com as velhas e fracassadas políticas que enfatizavam integração e estabilidade monetária em detrimento de crescimento e competitividade. É difícil acreditar que ele tenha novas idéias agora. Não é de surpreender que não haja sinais de algum avanço. "A Itália vai continuar na lanterninha nas classificações de desempenho", disse Jonathan Loynes, um economista da firma de consultoria Capital Economics Ltd., em Londres, em entrevista por telefone. "Deveremos ver uma retomada no crescimento neste ano, mas partindo de uma base muito baixa. Trata-se mais de uma recuperação cíclica do que um tipo de melhoria estrutural real." Os italianos consideram a economia como a questão mais importante na eleição. O país necessita de liderança política para arrancá-lo do atoleiro em que se meteu. "Numa união monetária, onde desvalorizações competitivas já não são uma opção no menu, a única maneira de recobrar competitividade é mediante ajustes nos preços relativos", diz Vincenzo Guzzo, um economista do Morgan Stanley em Nova York em nota de análise distribuída a investidores. "Na Itália, onde os níveis salariais estão comparativamente baixos, uma desinflação competitiva virá, com maior probabilidade, de menores altas nos preços de serviços. O processo político poderá tornar todo esse processo menos doloroso, restabelecendo as forças de mercado em todos os setores que sejam 'terreno natural delas'", disse ele. A Itália defronta-se com dois caminhos: um íngreme e outro suave. O país pode continuar com o euro, tentar restaurar sua competitividade, cortando custos, e remodelar sua economia. Os salários na Itália já estão bastante baixos, de modo que o ataque aos custos têm de vir da abertura de setores como serviços empresariais a competição e redução de impostos. Alternativamente, a Itália pode simplesmente pedir desculpas e abandonar o euro. A antiga política econômica era manter a lira desvalorizada mediante constantes desvalorizações. Essa prática pode não ter recebido muitos aplausos nos manuais de economia, mas - meio que aos trancos e barrancos - a coisa funcionava. Agora, a Itália tem como opções apenas escolher entre dois políticos fatigados, nenhum dos quais parece disposto a atacar a enfermidade econômica. Não há dúvida de que os investidores irão se manter à distância da Itália. Muitos italianos provavelmente desejariam poder fazer o mesmo.